terça-feira, 29 de abril de 2008

Meu País

Fico pensando as vezes como alguns brasileiros se permitem não amar nossa terra, nosso lar. As situações nos pregam peças inimagináveis, e viajamos no pensamento sobre disparidades correlacionadas e idéias vagas e inócuas com relação as coisas postas e oportunidades únicas que vivemos e não sentimos, não damos valor, pois estão à nossa porta a todo instante, a nossa mesa, fazem parte do nosso cotidiano. Tenho sempre a oportunidade de conversar com um Francês, Stephan Bartinelli, acho que é assim que se escreve seu nome, e sempre me surpreendo com as coisas que Ele conta da sua terra natal, principalmente quando passa a comparação com as coisas que temos aqui. Como se pode achar maravilhoso um País onde tudo se vende aos pedaços, onde um banho não passa nunca dos três minutos, onde a população esta morrendo de câncer?...e olha que é proibido falar nesse ultimo item.
Segundo o mesmo, na França não se conhece uma mortadela inteira, não se compra uma melancia, não compram verduras como compramos. Os supermercados são diferentes dos que estamos acostumados, e tudo é vendido aos pedaços. Outra coisa é a falta de variedade, a maioria do que temos lá não existe, e o que Eles tem, são poucas as variedades. E não se tem a oportunidade de diversificação, e isso não acontece só com os gêneros alimentícios, exemplo?
A água. Lá não existe banho como tomamos, entra-se no chuveiro e abri-se a torneira um minuto para se molhar, e fecha-se. Toda a higiene é feita com a água desligada, liga-se cerca de dois minutos apenas para se enxaguar. –“ Sabe esse negocio de você ver crianças tomando banho em hidrantes estourados?...é mentira, pois a água dos hidrantes já é reaproveitada três vezes, e não tem como se tomar banho com ela”. Não se lava janelas, carros, casa, a roupa tem a água certa para lavar e a ultima água tem que ser quente para poder desinfetar. A pia da cozinha tem divisões e somente na ultima se usa água para enxágüe. “Eu só conheci um queijo inteiro aqui no Brasil”. “Quando vou ao supermercado, fico louco com a quantidade de folhas que vocês tem a disposição, com a quantidade de verduras e carnes, cereais, peixes, mas gosto mesmo é de feijão com arroz e bife ou ovo”. “ Na minha terra água de beber e cozinhar só de garrafa”.
Discutíamos isso no MSN, mas o que mais me chamou a atenção foi quando falamos sobre a doença que assola a Europa nos nossos dias. Um dia desses assistindo ao programa da Ana Maria Braga, vi e ouvi a declaração de uma diarista brasileira que trabalha na França seis meses por ano, e a mesma declarou que das 90 casas que prestara serviço, em quase todas tinha um cancerígeno de alguma espécie, e isso confirmei com Stephan, o que realmente se declara é que a Europa está morrendo de câncer.
Meu País não é assim, e isso Stephan faz questão de me mostrar. O meu País é vasto, rico, fraterno e esnobe. Aqui tudo funciona na base do oito ou oitenta. Ficamos reféns do gás Boliviano até a hora que nosso pequeno vizinho passou a nos afrontar, sem entender que passar a exploração do seu gás, foi uma forma de ajudar ao desenvolvimento do seu País. Agora vem nosso sócio em Itaipú querendo levar vantagem também com relação à distribuição e venda da energia produzida, sem entender que nosso País é auto suficiente em energia elétrica, e que mesmo correndo o risco de apagões, podemos construir várias outras hidrelétricas num curto espaço de tempo. Nesse momento, técnicos, cientistas, sociólogos, economistas, etc., estão a bombardear a idéia do nosso governo de divulgação do combustível derivado do vegetal, tentando associar a sua produção a fome mundial. Tentam desacreditar meu País no mercado internacional. Não entendem que usamos apenas 4% da terra produtiva para produção da cana de açúcar, e outros 17% para produção dos demais produtos agrícolas. Se contradizem...sempre falaram na possibilidade de uso de outro combustível, como forma de diminuição de emissão de poluentes, e esquecem que nosso álcool polui apenas 10% do que polui os derivados do petróleo. O meu País é o maior produtor de frango, carne bovina, suína, soja, açúcar, álcool combustível, cachaça, cerveja, minerais brutos e preciosos, armas leves, tanques de guerra, farinha de mandioca, rapadura, melaço, etc....Tem as mais lindas e quentes praias do mundo, as mais lindas mulheres, exporta cientistas e tecnologias, tem o controle atômico, produz urânio, e é dono de 70% da água potável do mundo.
Sinto orgulho em fazer parte de um País agrícola, que sabemos que dentro de pouco tempo será o maior abastecedor de alimentos do mundo, que está agora se tornando o maior detentor de energia renovável do mundo. Os olhos dos outros continentes já voltados as nossas riquezas, quer agrícolas, quer minerais (reservas), estão agora preocupados com um gigante que desponta no horizonte com possibilidade real de mudar a forma de abastecimento em se tratando de combustíveis, e isso os está deixando preocupados, pois por vezes tentaram, mas nunca conseguiram com tamanho sucesso o que nosso País, desacreditado pelos próprios brasileiros, conseguiu.
Acho que está na hora do nosso País passar a socializar internamente a possibilidade de crescimento, e passar a investir mais no social, propiciando melhorias reais ao seu povo, e não aumentando em míseros R$40,00 (quarenta reais) o salário mínimo, e deixar que um quilo de feijão passe de R$1,10 (hum real e dez centavos) para R$4,00 (quatro reais), produtos que fazem parte da cesta básica chegaram a triplicar de preço, houveram aumentos desordenados nos remédios, vestiário, bens de serviços... e isso é que não entendo. Stephan acha nosso País maravilhoso, que vivemos não como seus patrícios nos chamam, “porcos sem educação”, e sim que vivemos acompanhados da fartura, temos tudo em sobra e não nos preocupamos com as coisas porque elas não nos faltam. Segundo ele aqui não existe fome nem miséria de verdade, existem miseráveis, ou seja, pessoas improdutivas postas pelo social, pelo descaso, pela falta de oportunidade. Uma vez discutimos porque ele não entendeu como vivemos em minha casa com R$1.500,00 ( hum mil e quinhentos reais), que é o que conseguimos como renda familiar, para Ele isso é impossível, isso nunca poderia acontecer na Europa. Vivemos com pouco sim, mas comemos carne, frutas e verduras todos os dias, e ainda sobra o da cachaça de fim de semana, o que chateia é a falta de perspectiva, e é aí que entra a UNEB, com a possibilidade palpável e visionaria de projeção futura, duma melhoria, e não pensem que vou mudar meu padrão de vida, pretendo sim, pescar mais, viajar mais, aproveitar mais tudo de bom que mau País tem a me oferecer.
Soares.