terça-feira, 20 de dezembro de 2011

FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOPEDAGÓGICO:
UM OLHAR A PARTIR DA ATUAÇÃO DA SECRETARIA MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO DO MUNICIPIO DE IRECÊ


UNEB
ABEL DOS REIS NETO E ETEMÍCIO LIDIO SOARES FILHO
FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOPEDAGÓGICO:
UM OLHAR A PARTIR DA ATUAÇÃO DA SECRETARIA MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO DO MUNICIPIO DE IRECÊ
Monografia apresentada à Universidade do estado da Bahia,
Campus XVI, Irecê, como requisito para obtenção da
graduação em Pedagogia – Docência e Gestão de Processos
Educativos.
Orientador: MS. Prof. Darcy Castro
Irecê
2011
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FOLHA DE APROVAÇÃO
ABEL DOS REIS NETO E ETEMÍCIO LIDIO SOARES FILHO
FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOPEDAGÓGICO:
UM OLHAR A PARTIR DA ATUAÇÃO DA SECRETARIA MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO DO MUNICIPIO DE IRECÊ
Monografia apresentada à Universidade do estado da Bahia, Campus XVI, Irecê,
como requisito para obtenção da graduação em Pedagogia – Docência e Gestão de
Processos Educativos
Irecê,____de fevereiro de 2011
___________________________________________________________________
MS. Darcy Ribeiro de Castro – Orientador
Universidade do Estado da bahia – DCHT XVI – Irecê – BA
___________________________________________________________________
MS. Kedma Silvana Bastos Barreto – Examinadora
Universidade do estado da Bahia – DCHT XVI – IRECÊ BA
___________________________________________________________________
Esp. Ana Karine Loula Torres Rocha – Examinadora
Universidade do Estado da Bahia – DCHT XVI – Irecê - BA
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DEDICATÓRIA
Á família... Com amor.
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AGRADECIMENTOS
À família, não teríamos conseguido sem o apoio dos mesmos.
Aos professores que nos esclareceram e nos fundamentaram mediando leituras e
interpretações importantes no processo de formação de Pedagogos que somos.
À natureza, a vida, a Deus, que nos permitiu entender e enxergar no final da caverna
de “Platão”, a luz.
À humanidade por permitir o exercício da cidadania, por trilhar desde o macaco, os
difíceis degraus da evolução, e até pela existência dos maus intencionados, sem os
quais o bem não teria razão de existir.
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“Quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinar-aprender
praticamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica,
pedagógica, estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com
a decência e com a serenidade”
“... o exercício da curiosidade epistemológica me faz necessariamente um malamado,
arrogante, cheio de mim mesmo. Ou, em outras palavras, não é a minha
arrogância intelectual a que fala da minha rigorosidade cientifica. Nem a arrogância
é sinal de competência nem a competência é causa de arrogância. Não nego a
competência, por outro lado de certos arrogantes, mas lamento neles a ausência de
simplicidade que, não diminuindo em nada seu saber, os faria gente melhor. Gente
mais gente.
Paulo Freire.
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar como a Secretária Municipal de Educação
(SME) do município de Irecê – BA vem disponibilizando meios e possibilidades que
permitam as Escolas do Ensino Fundamental abordar temas que reflitam os
problemas ambientais, em sala de aula ou nos respectivos espaços de educação.
Para isto, buscamos identificar nos projetos deste órgão os parâmetros de
disponibilização de meios que permitam à escola a discussão sobre sustentabilidade
com a finalidade de despertar a consciência ecopedagógica nos alunos, bem como
as concepções de seus gestores. Usamos como técnicas a analise de documento e
entrevista. Assim, discutir formas para que os alunos conheçam e discutam os
problemas ambientais da região do semi-árido, como meio de despertar neles o
interesse preservacionista é uma questão imprescindível a ser considerada como
documento formal da SME, uma vez que ainda é incipiente a normatização e
compreensão desta abordagem nesta entidade de educação. Neste sentido,
percebemos a importância de se formar o cidadão eco-pedagogicamente
consciente, desde o inicio do Ensino Fundamental, a partir do compromisso da
Gestão Pública Municipal com esta causa.
Palavras-chaves: Ensino Fundamental, Sustentabilidade, Ecopedagógogico,
Concepções dos funcionários, formas.
ABSTRACT
This paper aims to analyze how the Municipal Secretary of Education (SME) in the
municipality of Irecê - BA is providing means and possibilities for the Schools
Elementary School to address issues that reflect the environmental problems in the
classroom or in the spaces of education. For this, we seek to identify projects in the
parameters of this body means available to enable the school to discuss
sustainability with the aim of raising awareness ecopedagogic in students, as well as
perceptions of their managers. The techniques used to document analysis and
interview. Thus, discussing ways for students to meet and discuss environmental
problems in the semi-arid, as a way to kindle the interest preservation is a vital issue
to be considered a formal document of the EMS, since the normalization is still
incipient approach and understanding of this enterprise education. In this sense, we
realize the importance of forming a citizen eco-conscious pedagogically, since the
beginning of elementary school, from the Municipal Public Management commitment
to this cause.
Keywords: Elementary Education, Sustainability, Ecopedagógogico, Conceptions of
officials, forms
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 9
PROBLEMA, OBJETIVOS: GERAL E ESPECÍFICOS....................................11
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................12
2.1 A TERRA COMO UM SER ÚNICO............................................................12
2.2 EDUCAÇÃO...............................................................................................16
2.3 A BUSCA HARMÔNICA NAS RELAÇÕES HOMEM/GAIA.......................19
2.4 A AÇÃO DO GOVERNO............................................................................20
2.5 AGENDA 21...............................................................................................24
2.5.1 CONCEITO DA AGENDA 21.......................................................26
2.5.2 COMO SURGIU A AGENDA 21 NACIONAL..............................26
2.5.3 OBJETIVOS DA AGENDA 21 NACIONAL..................................26
2.5.4 AGENDA 21 NO BRASIL.............................................................27
2.5.5 O QUE É A COM-VIDA................................................................28
2.5.6 OBJETIVOS DO PROJETO COM-VIDA......................................29
2.5.7 PROJETO EDUCAR PARA A CIDADE.......................................29
3. METODOLOGIA....................................................................................................31
3.1 A BUSCA DOS DADOS.............................................................................31
3.2 PESQUISA QUALITATIVA........................................................................31
3.3 ENTREVISTA ESTRUTURADA (QUESTIONÁRIO).................................31
3.4 ANÁLISE DE DOCUMENTOS...................................................................32
3.5 ANÁLISE DE DADOS................................................................................32
3.6 TRABALHANDO COM OS DADOS...........................................................35
4. AOS UNIVERSITÁRIOS........................................................................................45
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................48
6. REFERÊNCIAS.....................................................................................................50
7. ANEXOS...............................................................................................................53
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1. INTRODUÇÃO
Este trabalho teve como objetivo compreender como a Secretária Municipal de
Educação do município de Irecê – BA vem dispondo de meios que permitam a
abordagem dos problemas ambientais, em sala de aula, nas escolas municipais. Ele
foi realizado no período de um ano de pesquisa, levantamento de dados e estudos,
que começaram no mês de janeiro de 2010 e perduraram até janeiro de 2011.
A partir de estudos desenvolvidos no grupo de estudos NUMA (Núcleo de Estudos
de Meio ambiente, da UNEB, campos XVI – Irecê), buscamos compreender como a
SME (Secretária Municipal de Educação) interfere, junto às escolas, para que
educadores e educandos possam dialogar sobre problemas ambientais, como forma
de fomentar a pesquisa e ao mesmo tempo, permitir a formação de uma consciência
ambiental e preservacionista nas crianças. É um desafio da escola do século XXI
abordar essa problemática, mas para isso, ela precisa estar apoiada em projetos da
SME que sejam compatíveis com esta perspectiva. Cada vez mais se torna evidente
a importância de se formar esse cidadão eco-pedagogicamente consciente, a partir
dos primeiros anos de escola. Em todos os espaços que se discutem os problemas
ambientais no mundo, como foi o caso do ECO-92 (Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - CNUMAD) na cidade do Rio de
Janeiro, ficaram evidentes nas discussões e entendimentos, a necessária ligação
entre educar e educar para a cidadania planetária. É um dever, amparado por lei
específica, “... que o gestor educacional inserira no espaço das escolas as
preposições da 'Agenda 21', que surge a partir das discussões que foram
evidenciadas desde a Eco-92” (MMA, 2010).
As escolas devem envolver-se diretamente no levante dessa bandeira, pois a
natureza não é infinita em seus recursos, nem tem a capacidade de regeneração
que acompanhe a degradação propiciada pelo homem. A nossa região, já por
capricho da própria mãe “Gaia” (Na mitologia Grega, Deusa da Terra, a mãe da
terra, a latente de uma potencialidade geradora quase absurda. Segundo Hesídio,
Ela é a segunda divindade primordial, nascendo após caos), sofre com a escassez
d’água, o baixo índice pluviométrico e a falta de educação do seu povo. O sertanejo
por ignorância permissivamente causou o desmate da caatinga, que por sua vez
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causou maior espaçamento entre os períodos de chuvas. Hoje o sertão sofre com o
assoreamento causado pelo desmatamento, a derrubada da mata ciliar de alguns
rios, córregos e veredas. Isso vem causando desertificação, e, segundo dados do
“INGÁ – Instituto de Gestão da Águas” e o “CAA – Centro de Assessoramento do
Assuruá”, muitas dessas áreas encontram-se já em processos avançados de
desertificação, o que as tornam irrecuperáveis em curto prazo.
Nossa região vive hoje uma crise sem precedentes com relação aos problemas
sócio-ambientais. A agricultura já não subsidia o sustento das comunidades devido a
baixa produtividade, o que leva os jovens a procurarem cada vez mais a zona
urbana e formação profissional voltada a indústria e comércio. No entanto, não
entendem que a região urbana não absorve também todo e excedente proveniente
do campo.
Portanto, formar sujeitos preocupados com a preservação ambiental e com a
recuperação dos espaços degradados, pode ser uma solução possível, e, se não
resolver, ameniza um problema grave e evidente que as cidades da região vêm
sofrendo (o êxodo rural e os graves problemas de estrutura dos bairros que vem
sobrecarregando a administração pública municipal). Com isso, além dos problemas
de colocação da mão de obra, surgem os graves entraves de segurança pública,
devido à disseminação das drogas e o alto índice de criminalidade.
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PROBLEMA:
Como a SME disponibiliza meios que permitam a inserção nas escolas de temas
que discutam os problemas ambientais do semi-árido do centro norte baiano?
OBJETIVO GERAL:
Identificar como a SME insere nos currículos escolares a temática ambiental voltada
para problemas regionais e contempla ações que venham a contribuir para a
formação do sujeito eco-consciente.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Compreender os aspectos de conteúdos e metodologias referentes á temática
ambiental na proposta pedagógica da SME.
Entender como os gestores da Educação Municipal de Irecê promovem e viabilizam
a inserção de temas discursivos que abordam os problemas do ambiente semiárido
(locais) nas escolas;
Verificar os conhecimentos práticos desses gestores com relação ao tema
ecopedagogia e os conteúdos dos artigos da 'Agenda 21' global e nacional.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A TERRA COMO UM SER ÚNICO
Hoje o conceito de educação ou de educar está intrinsecamente ligado à
necessidade de educar-se para a sustentabilidade. Pedagogicamente, não faz
sentido à formação do cidadão sem se ater à urgência de se formar no sujeito uma
“uma consciência preservacionista”. Ao longo da história da vida no planeta, nossa
mãe terra “Gaia”, passou de propiciadora dos materiais necessários para nosso
sustento e sobrevivência a explorada. Segundo Marx (1962), a relação humana com
o sistema de capital e a globalização levaram a humanidade à exploração
desenfreada da natureza, sem haver uma preocupação em se preservar o que é
finito.
O homem tem explorado o planeta como se a mãe terra tivesse um poder
regenerativo suficientemente capaz de corrigir os problemas causados com as
retiradas sem limites de materiais e as transformações que a relação do homem com
o meio ambiente tem ocasionado, interferindo nesse processo de regeneração. O
ecossistema é perfeito, e a retirada de elementos da natureza propicia mudanças
em tal processo, ocasionando problemas ambientais tais como: o efeito estufa, que
vem causando o degelo dos polos e o aumento das temperaturas em todo o globo
terrestre, interferindo na qualidade de vida das populações; o desmatamento, que
vem causando assoreamento do solo, mortalidade de rios e desertificação, etc. Hoje,
nosso planeta já vem demonstrando que há uma resposta à exploração desenfreada
dos bens naturais e da contaminação dos elementos da natureza e a ocupação de
áreas sem um estudo ambiental prévio.
Marx, já em 1844, contribui incisivamente para o progresso incitando em seus
escritos o debate sobre a relação natureza e economia, ao interpelar a interpretação
da acumulação capitalista dentro de suas contradições sociais. Isso veio contribuir
decisivamente para os estudos que se seguiram, evidenciando o debate da relação
economia-natureza, ao contrário da concepção liberal clássica que se baseia
unicamente nas limitações naturais como delimitação da evolução social. As
análises de Marx evidenciam o continuísmo do modo de produção capitalista, a
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partir da maximização dos lucros o que, segundo seu entendimento, conduz
tendencialmente a uma “... crescente exploração, alienação e exploração da força de
trabalho, por um lado, e, por outro, à deteriorização da base de produção
econômica, da fonte de riqueza, ou seja, da natureza” (MARX, 1983a, p.58).
Os liberais, ao contrario de Marx, concebem a natureza como fonte ilimitada de
matérias-primas e fonte de recursos gratuitos. Para Marx, “... a natureza não gera
valor de troca, porém, ela é fonte de valor de uso” (MARX, 1962, p.51). Neste
sentido, os seres humanos e a natureza se encontram em posição de troca e
reciprocidade, e isso está evidenciado nas descrições dos manuscritos econômicofilosóficos
marxianos de 1844.
Esse debate vem evoluindo através dos tempos, talvez não na velocidade que urge
“Gaia”, mas essa abordagem vem sendo evidenciada nos debates políticos e
teóricos da obra de Marx e do marxismo contemporâneo.
Sendo “Gaia”, tudo que fere a nossa mãe “terra”, indiretamente nos fere também.
Não há coerência em formar-se um médico, engenheiro, contador, etc., se não
existir terra. Qualquer que seja o ramo de atividade do cidadão, não haverá sentido
se não for despertado nesse cidadão a conscientização ambiental e
preservacionista. Segundo Gadotti (2002), todas “as pedagogias” se fundem hoje
num sentido maior de formação dessa consciência de massa, e vem com um forte
argumento ecopedagógico, conclamando os educadores a despertarem para
necessidade de se encurtar a distância entre os alunos e os problemas do mundo
(planeta Terra).
Os clássicos paradigmas, fundados numa visão conservacionista de uma indústria
predatória e desenvolvimentista, estão-se esgotando e não dão conta de responder
às questões ambientais que urgem. Precisamos hoje de uma nova visão de
formação do jovem, fundada na visão da sustentabilidade, tão diferente da visão
egocêntrica do globalismo.
Ellen M. Wood e John B. Foster (2007), autores norte americanos da revista
“Monthly Review”, vêm discutindo teoricamente a suposta incompatibilidade entre o
pensamento marxista conservador e a problemática ambiental contemporânea. Mas,
partindo-se de enunciados e estudos da escola Russa dos fins do século XIX e início
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do século XX, somos levados a entendimentos contrários a essa teoria.
Chayamanov e Abramaway, pensadores russos, são pioneiros em propor análises
visando um maior equilíbrio entre os homens e a Terra, que derivariam, segundo os
entendimentos dos mesmos, de estudos sobre a relação entre homem/terra
(território), e isso vem evidenciado nos escritos desses dois cientistas, e mais, de
Vernadsky e Podolisky, outros companheiros que fornecem alguns elementos
importantes, que faz com que pensemos a questão agrária como base nas
considerações dos fatores ecológicos e ambientais.
Para Chayamanov, “... se deveria construir uma nova estrutura social baseada na
cooperação, em contraposição à destruição da vida social do mundo social Russo”
(Wanderley, 1996, p.38). Estes autores juntamente com Abramaway, “defendiam
que não se perdesse a organização social existente na Rússia, tanto entre
camponeses quanto entre agrônomos” (Revista Campo-território, v.2, n.3, p.57 -78,
fev., 2007). Eles se baseavam essencialmente na ideia de evolução paleontológica
para a origem da vida, mas não a paleontologia que estuda a evolução animal e
vegetal, e sim, uma paleontologia de visão a caráter holístico, cuja complexidade
está descrita no conceito de biosfera dos mesmos, qual seja:
[Biosfera é]: “A região única da crosta terrestre, ocupada pela vida (que) em
si mesma não é um fenômeno exterior ou acidental da superfície terrestre.
Está ligada estranhamente à estrutura da crosta terrestre, e forma parte do
seu mecanismo. Toda a vida, toda a matéria viva pode considerar-se como
parte de um conjunto indivisível de todo o mecanismo da biosfera.”
(Vernadesky, apud DELÉAGE,1993, p.227-28).
Na biosfera não existe azar ou acaso, existe sim, um mecanismo cósmico
harmonioso, que gerencia um grande processo transformador, motivado pela
energia geoquímica das bactérias, as artrópodes (animais invertebrados
caracterizados por possuírem membros rígidos e articulados e compõem o maior
filo de animais existentes). Isso se faz presente pela sua velocidade de fusão,
multiplicando-se em progressão geométrica, e a vida não pode ser definida em uma
proporção espaço tempo abstraída (abstrato) e limitada, conforme apregoam e
defendem os liberais. Ela dimensiona-se nas proporções definidas pelo planeta, de
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acordo com as limitações químico-físicas do meio, deferidas nas concepções de três
elementos básicos que compõem a biosfera que são:
“A MATÉRIA VIVA – com dois milhões de espécies, sendo as autótrofas
(ocorre com os vegetais via fotossíntese, representando cerca de 99%) e as
heterótrofas (ocorre com os vegetais via outras espécies, representando
cerca de 1 %);
A MATÉRIA BIOGÊNICA – originada dos seres vivos, compreende os
bicombustíveis fósseis, o húmus, o esterco de origem vegetal (dos
pântanos);
A MATÉRIA BIO-INERTE – cujo estágio atual é indissociável da vida
terrestre, compreendendo a água e rochas sedimentares, e é a parte inferior
da atmosfera
(CAMPO-TERRITÓRIO, Revista de geografia agrária, v.2, n.3, p.55-78, fev.,
2007)
O mundo sofre com várias doenças, e, em sua maioria, causadas pela relação
desequilibrada do homem com a Natureza. As ações humanas no meio natural são
incompatíveis com a visão de sociedade sustentável discutida atualmente nos meios
acadêmicos e/ou de pesquisa. Isso reflete um desarmonioso estado de interrelacionamento
que se torna evidente nos efeitos antrópicos e ocorrência de
fenômenos naturais com maior intensidade e frequência (desertificação, chuva
ácida), .. Por isso, é necessária uma mudança de estrutura social, a partir da escola,
para que se busque uma nova visão econômico-social, preocupada com a
preservação da vida no planeta e com a perspectiva de se consolidar uma relação
de respeito entre os seres vivos.
Hoje, segundo estudiosos do clima como Helio dos Santos Silva, coordenador do
Centro de Sistemas de Alerta do Governo Federal, Liria Alves, graduada em Física e
da equipe ambiental química da revista Brasil Escola, nosso planeta encontra-se
envolto por uma camada de smog (combinação de fumaça e nevoeiro), proveniente
da queima de combustíveis, das queimadas e da industrialização, que ataca as
plantas, causando mutação nos vegetais e, conseqüentemente, nos animais,
atingindo e dizimando variadas espécies que depende das plantas para sobreviver
de forma direta ou indireta.
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UNEB
Para CAPRA, “o smog não é encontrado apenas na vizinhança das grandes
cidades, está disperso em toda a atmosfera da terra, e pode afetar gravemente o
clima global” (l981, p.13).
O “smog” é apenas um dos problemas causados na natureza em decorrência da
relação desequilibrada da nossa espécie e o meio ambiente. As grandes cidades
produzem milhares de toneladas de gazes tóxicos que são despejados diariamente
no meio, e isso não pode ser evitado a curto prazo, sem causar caus social. Como
seriam feitos os transportes sem os veículos automotores?... a humanidade teria que
a curto prazo, construir opções, mas não pontuais e sim de forma global e
abrangente, que atendesse a demanda de transporte em todas as metrópoles do
mundo. As siderurgias, teriam que procurar opções de combustíveis para alimentar
seus fornos, que não fosse o carvão vegetal, sem prejudicar a produção de aço.
2.2 – EDUCAÇÃO
A educação tem que despertar no homem jovem a sensação de pertencimento a
“Gaia”. “... estrangeiro eu não vou ser, cidadão do mundo eu sou...” diz o trecho da
letra da música de Milton Nascimento, aí se manifesta a necessidade desse
despertar quanto parte desse mundo, quanto parte da natureza e não detentor dela.
As crianças de nossas escolas e nossos educadores precisam entender a
profundidade do que isso significa, “... como posso sentir-me estrangeiro em
qualquer território se pertenço a um único território? Não há lugar estrangeiro para
terráqueos, na terra.” (GADOTTI, 2002). Nesse sentido, temos que:
A Cultura da sustentabilidade supõe uma pedagogia da sustentabilidade
que dê conta da grande tarefa de formar para a cidadania planetária. Esse é
um processo já em marcha. A educação para a cidadania planetária está
começando através de numerosas experiências que, embora muitas delas
sejam locais, elas nos apontam para uma educação para nos sentir
membros para além da Terra, para viver uma cidadania cósmica.
(GADOTTI, 2002,p.18).
Assim, educar implica muito mais que uma filosofia educacional. Implica em revisar
os currículos, reorientar a nossa visão de mundo, a nossa visão da educação como
propiciadora da inserção do individuo no global visando ao mesmo tempo sua
interação no glocal (procurar entender o mundo globalizado, sem deixar de envolver17
UNEB
se com os problemas locais). Como disse Émili Durkheim, “educar não seria a
transmissão da cultura, de uma geração para outra, mas a grande viagem de cada
indivíduo no seu universo interior e no universo que o cerca” (2002, p.68).
Os problemas ambientais no nosso semi-árido, por exemplo, são muitos e
diversificados, vão desde a contaminação da água no subsolo ao uso desenfreado
da mesma; do desmatamento ciliar a contaminação de córregos e rios, ao
extermínio de nascentes; da desertificação e assoreamento causados pelos
desmatamentos até aos problemas das queimadas da caatinga; daí a necessidade
de se discutir e implantar tais assuntos nas escolas através das determinações da
SME do nosso município.
Para Capra, “vivemos hoje num mundo globalmente interligado, no qual os
fenômenos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais são todos
interdependentes”... (1981, p. 8), levando-nos a entender que a fragmentação do
ensino, não permite preparar o humano para conviver em harmonia com a Mãe
Terra. E vai além, “... para descrever esse mundo apropriadamente, necessitamos
de uma perspectiva ecológica que a visão de mundo cartesiana não nos oferece”
(1981, p.8).
É necessário que os gestores educacionais contemplem a interdisciplinaridade, para
que o educador possa evidenciar a todo instante, na relação com o discente, a
urgência da busca da harmonia entre os seres humanos e “Gaia”. Precisamos, pois
de um novo paradigma no processo relacional entre Mãe e filhos, “ ... uma nova
visão de realidade, uma mudança fundamental em nossos pensamentos,
percepções e valores” (CAPRA, 1981, p.8) onde as comunidades busquem
possibilidades de produção que inviabilizem a degradação, permitindo a produção
sem necessariamente levar-se em consideração a acumulação do capital.
Entendemos que não há melhor caminho que a escola para que se inicie um
trabalho que leve a essa reflexão e conscientização. Para Capra, “... os primórdios
dessa mudança , da transferência de concepção mecanicista para a holística da
realidade, já são visíveis em todos os campos, e suscetíveis de dominar a década
atual” (1981, p.9). Ele afirma isso há trinta anos, em dias de começo dessa
preocupação com os problemas ambientais. Era época em que os movimentos
sociais se reestruturavam no país, e tomavam conhecimento dos problemas sofridos
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UNEB
pelas populações em decorrência do mau uso dos materiais provenientes da
indústria e da exploração do meio ambiente.
Até os anos 80, os movimentos agiam isolados, desarticulados, ainda não
reconheciam... “que suas intenções se inter-relacionam (...) podemos esperar que os
vários movimentos fluam juntos e formem uma poderosa força de mudança social”
(CAPRA, l981, p.9). O que se discute e é necessário que se entenda, é que a
gravidade e extensão da crise social no mundo de hoje, nos mostra que não há
como melhorar se não houver uma mudança social sem precedentes na forma de
agir do homem com relação ao planeta. Essa limitação de visão cartesiana do
mundo e do sistema de valores éticos que vivemos, afeta seriamente nosso físico,
saúde individual e social e não combina com a urgência em formar-se sujeitos
ecopedagógicos e preocupados com a sustentabilidade. Para CAPRA:
(...) um exame não detalhado da não visão de realidade...essa visão inclui a
emergente visão sistêmica de vida, mente, consciência e evolução; a
correspondente abordagem holística da saúde e da cura; a integração dos
enfoques ocidental e oriental da psicologia e da psicoterapia; uma nova
estrutura conceitual para a economia e a tecnologia; uma perspectiva
ecológica e feminista, que é espiritual em sua natureza essencial e
acarretará profundas mudanças sociais e políticas(1981, p.9).
A deterioração que causamos no meio ambiente, vem sendo acompanhada de um
correspondente aumento de mudança na saúde dos humanos:
(...) parecem brotar de uma deterioração paralela ao nosso ambiente social.
Existem numerosos sinais dessa deterioração paralela ao nosso ambiente
social, incluindo o recrudescimento de crimes violentos, acidentes e
suicídios; o aumento do alcoolismo e consumo de drogas; um número
crescente de crianças com deficiência de aprendizagem e distúrbios de
comportamento (CAPRA, 1981, p.14)
Portanto, o interesse desse trabalho é entender de que forma está sendo inseridas
nas escolas da nossa região as questões ambientais, incluindo, ou tomando como
base, a “AGENDA 21” e a “Eco92”. Além disso, vislumbramos entender de que
forma estão sendo disponibilizados meios que contemplem a formação dos alunos
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imbuindo o desenvolvimento de sujeitos preocupados com o futuro do planeta e
integrados dessa consciência ecopedagógica.
2.3 A BUSCA HARMÔNICA NAS RELAÇÕES HOMEM/GAIA
Diante dos problemas que o planeta vem sofrendo em decorrência da relação
homem/natureza, diante dos problemas levantados nas discussões quando das
reuniões do NUMA, percebemos a necessidade de entender de que forma vem
sendo gestada a educação no nosso município. O foco principal é a investigação da
disponibilização de meios que permitam disseminar estudos e entendimentos em
sala de aula das escolas municipais, enfocando os problemas ambientais do
sertanejo, do homem do semi-árido do centro-norte-baiano.
Proporcionalmente, os desmandos com a natureza são tão ou mais graves no sertão
de que em outras regiões do país. A falta de uma política educativa a partir da
escola permite formarem-se anualmente sujeitos despreocupados com a escassez
de água, com a mortandade dos nossos córregos, rios e riachos, com a derrubada
da nossa caatinga. Desde Marx, passando por estudiosos russos do século XIX, até
Capra e Gadotti nos nossos dias, revela-se na obra desses homens uma grande
preocupação com o futuro da humanidade em decorrência da relação dos homens e
natureza. Já há uma preocupação com a impossibilidade de se viver em “GAIA”.
O sertanejo na sua humildade e deseducação ambiental, não previu o caos
ecológico que vivemos hoje no nosso sertão, mas, ainda assim, os comerciantes e
produtores rurais industrializados têm inexoravelmente explorado os recursos
naturais restantes, sem uma preocupação com as comunidades futuras e sua
relação com o ambiente destruído que encontrarão. Segundo Tabarelli (MMA, 2000
apud TABARELLI, 2004, p.737), hoje, apenas 2% da caatinga é protegida, apesar
de ameaçada. Diante desse fato, vários rios e córregos que mantinham vivos
trechos dessa caatinga, que outrora existiram, foram também extintos, outros, por
força do assoreamento, do desmatamento ciliar ou da desertificação, não são mais
rios perenes e estão fadados ao extermínio.
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Não buscamos entender se educar a partir da criança numa perspectiva
preservacionista pode ou não resolver os problemas de meio ambiente no nosso
município, mas entendemos que uma formação voltada a conscientizar o ser
humano da emergente necessidade da preservação do meio ambiente, possibilita
uma relação mais harmônica entre os seres vivos.
2.4 A AÇÃO DO GOVERNO
É relevante que se insira na educação municipal, através da SME, as proposições
da “Carta da Terra” elaborada a partir das discussões e idéias debatidas na Eco92
no Rio de Janeiro, evidenciada a partir do Primeiro Encontro Internacional da Carta
da Terra na Perspectiva da educação. Esse encontro foi organizado pelo Instituto
Paulo Freire, com apoio da UNESCO e do Conselho da Terra, de 23 a 26 de agosto
de 1999, em São Paulo, e do I Forum Internacional de Ecopedagogia, realizado na
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Porto,
Portugal, de 24 a 26 de março de 2000. Desses encontros, surgiram os princípios
orientadores desse movimento contido numa “Carta da Ecopedagogia”. Segue a
relação de alguns deles e o nosso entendimento a respeito dos mesmos:
1.O planeta como uma única comunidade;
Na biodiversidade, vem o homem se desenvolvendo e se destaca como
animal racional. Temos que enfatizar que somos parte de um todo... a
natureza não está ao nosso serviço... somos parte integrante dessa natureza.
2.A terra como mãe, organismo vivo e em evolução;
Vivemos em um pequeno planeta do nosso sistema solar, e não nos é
possível analogias sobre outro local que se tenha à disposição no universo
que permita o desenvolvimento da nossa forma de vida. As mudanças que
presenciamos em nosso planeta, nos leva a crer que estamos em constante
evolução.
3. Uma nova consciência que sabe o que é sustentável, apropriado, o faz
para a nossa existência;
21
UNEB
É dever do educador semear entre as crianças o entendimento de que nossos
recursos naturais não são infinitos. Devemos fomentar o desenvolvimento de
multiplicadores, de sujeitos eco-pedagogicamente conscientes, voltados à
busca do desenvolvimento sustentável.
4. A ternura para com a nossa casa, nosso endereço é a terra;
O educador deve levar as crianças a conhecerem a essência da vida,
demonstrando de forma prática que tudo que é vivo está interligado e que,
dentro da biosfera, somos parte integrante de um processo em constante
desenvolvimento. A terra, como nosso lar, é a propiciadora de todos os
elementos que permitem essa evolução.
5.A justiça sócio-cósmica: a terra é um grande pobre, o maior dos pobres;
No nosso sistema de produção, nosso planeta passou de propiciador de
víveres a explorado e, dentro do processo evolutivo, vem sofrendo com o
descaso da nossa espécie com a conservação do meio. Sofregamente, vem o
planeta sofrendo transformações que nem sempre são condizentes com o um
desenvolvimento satisfatório, e assim, a terra sofre e chora.
6.Uma pedagogia biófila (que promove a vida), envolver-se, comunicar-se,
compartilhar, problematizar, relacionar-se e entusiasmar-se;
A Ecopedagogia vem como uma ciência propiciadora dessas mudanças de
características do sujeito, tão necessárias na busca desse desenvolvimento
sustentável. Busca-se uma conscientização que forme multiplicadores
ambientais, na busca de moldes de convivência que permitam uma forma
harmoniosa de troca entre a mãe terra e o homem.
7. Uma concepção do conhecimento que admite só ser integral quando
compartilhado;
Levar as crianças a dialogarem sobre os meios de produção e sobre a relação
que o homem mantém com a mãe natureza; despertar nelas o interesse pela
reflexão e pesquisa, na busca de formas de desenvolvimento que não
agridam a mãe terra; compartilhar experiências e estudos, como forma de
instigar a reflexão sobre o desenvolvimento sustentável, através do
22
UNEB
desenvolvimento de projetos na escola que estimulem a reflexão dos
problemas ambientais.
8.O caminhar com sentido (vida cotidiana);
Despertar nos alunos o sentimento de fidedignidade humana, de irmandade e
respeito ao próximo e a vida.
9.Uma racionalidade intuitiva e comunicativa: afetiva, não instrumental.
Instigar o desenvolvimento de atividades que evidenciem o coletivo, em que
todos dependam da ação do outro, evidenciando a força da união e como
essa união ganha força quando munida de elementos que evidenciem o
continuísmo e perseverança, a preservação e regeneração.
10.Novas atitudes: reeducar o olhar, o coração;
Evidenciar a importância da relação (homem/natureza), e entender a
importância da simplicidade nessa relação, onde se propicie o
desenvolvimento de atitudes que não propiciem o acumulável.
11.Cultura da sustentabilidade: eco formação. Ampliar nosso ponto de vista.
Plantar a semente da continuidade nos alunos, ampliando a discussão dos
problemas ambientais em sala de aula; relacionar as formas de vivência que
tínhamos, que temos e que provavelmente teremos, se não haver essa
preocupação desde já.
Assim sendo, precisamos de uma “Pedagogia da Terra” que vise essa formação de
reconstrução de um paradigma voltado à sustentabilidade. Isso vem se construindo
gradativamente, embasados de várias reflexões nas ultimas décadas dentro do
movimento ecológico. Gadotti (2002) coloca em evidência as idéias postuladas nos
escritos de Paulo Freire, Leonardo Boff, Sebastião Salgado, Boaventura de Souza
Santos e Milton Santos, em sua atuação quanto gestor frente ao instituto Paulo
Freire, o quanto esses teóricos da educação evidenciam a emergente necessidade
de inserção na educação de preposições e valores interdependentes (assim como
CAPRA, 1981). Esses valores propõem educar: o pensar globalmente, os
sentimentos, a identidade terrena, a consciência planetária, a compreensão do
23
UNEB
gênero humano, a simplicidade, a quietude, a justiça, a paz e a sustentabilidade.
Então, a intenção é que o homem entenda que o universo não pode ser
compreendido como partes separadas, mas como um todo sagrado, em evolução,
expansão e interação.
Esse processo faz parte da construção de um paradigma/terra que é um paradigma
civilizatório. O universo é tudo, está a nossa volta, dentro e fora de nós, longe e
perto. Dentro do universo, a terra é um pequeno jardim, e somos parte disso; por
essa razão é que devemos programar a inserção no educativo da “Agenda 21”.
O sentido da educação amplia-se para a formação de um homem planetário no
sentido preservacionista, mudando sua visão antropocêntrica para uma
conscientização planetária, para uma prática de cidadania planetária num novo
referencial ético e social de civilidade.
Precisamos entender a relação da escola com essa nova amplitude, com esse novo
perfil educacional, e como se dá a relação dos educadores com esses novos
processos e necessidades que a humanidade tanto precisa. Daí se remete a
importância de entendermos de que forma os gestores da SME programam medidas
e delineiam metodologias que contemplem a abordagem dos temas ecopedagógicos
(formação de sujeitos preocupados com o meio ambiente; formação voltada à busca
de desenvolvimento sustentável; etc.), nos espaços escolares do município de Irecê,
bem como, entender as metodologias usadas e a inserção dessas discussões nos
currículos. Isso vem explicitado no projeto 'Educar para a Cidade' da SME.
As escolas do município de Irecê estão inseridas dentro de um nicho social de baixa
renda, formado quase que inteiramente por sujeitos que se dedicam à agricultura de
subsistência ou pequenos serviços junto à comunidade da cidade como forma de
propiciarem o sustento das famílias.
É interessante investigar e entender as ações que a SME vem normatizando como
parâmetro de disponibilização de meios que permitam à escola, à formação de uma
consciência preservacionista no discente. Deve a SME despertar o interesse
ecopedagógico nos professores e gestores, incentivando os mesmos a inserir nas
discussões em sala de aula, assuntos e exemplificações que evidenciem os
24
UNEB
problemas nas atuais do seres humanos com o meio ambiente, pois as previsões
com relação aos problemas ambientais, não são animadoras.
Este ponto é importante porque existe, neste momento, um destino comum
para todos os seres humanos. O crescimento da ameaça letal se expande
em vez de diminuir: a ameaça nuclear, a ameaça ecológica, a degradação
da vida planetária. Ainda que haja uma tomada de consciência de todos
esses problemas, ela é tímida e não conduziu ainda a nenhuma decisão
efetiva. Por isso, faz-se urgente a construção de uma consciência
planetária.
(EDGAR MORIN - Publicado no Boletim
da SEMTEC-MEC Informativo Eletrônico da Secretaria de Educação Média
e Tecnológica – pg. 07 - Ano 1 – Número 4 – junho/julho de 2000)
Dentro do processo interdisciplinar numa visão construtivista, que é o processo
metodológico em evidência, em uso e aplicação nas escolas amparadas pela SME,
em seu projeto norteador, “EDUCAR PARA A CIDADE”, buscamos entender essas
abordagens e se as mesmas contemplam as necessidades do educativo em se
formar para a cidadania plena e ecopedagogicamente correta.
2.5 AGENDA 21
Os temas fundamentais da Agenda 21 estão tratados em 40 capítulos organizados
em um preâmbulo e quatro seções:
1. Preámbulo
Seção I. Dimensões sociais e econômicas
2. Cooperação internacional para acelerar o desenvolvimento
sustentável dos países em desenvolvimento das políticas internas conexas
3. Luta contra a pobreza
4. Evolução das modalidades de consumo
5. Dinâmica demográfica e sustentabilidade
6. Proteção e fomento da saúde humana
7. Fomento do desenvolvimento sustentável dos recursos humanos
8. Integração do meio ambiente e o desenvolvimento na tomada de
decisões
Seção II . Conservação e gestão dos recursos para o desenvolvimento
9. Proteção da atmosfera
10. Enfoque integrado do planejamento e da ordenação dos recursos das
terras
11. Luta contra o desmatamento
25
UNEB
12. Ordenação dos ecossistemas frágeis: luta contra a desertificação e a
seca
13. Ordenação dos ecossistemas frágeis: desenvolvimento sustentável
das zonas montanhosas
14. Fomento da agricultura e do desenvolvimento rural sustentável
15. Conservação da diversidade biológica
16. Gestão ecologicamente racional da biotecnologia
17. Proteção dos oceanos e dos oceanos de todo tipo, incluídos os mares
fechados e semi-fechados e as zonas costeiras, e o uso racional e o
desenvolvimento de seus recursos vivos
18. Proteção da qualidade dos recursos de oceanos: aplicação de
critérios integrados para o aproveitamento, ordenação e uso dos recursos
de água doce
19. Gestão ecologicamente racional dos produtos químicos tóxicos,
incluída a prevenção do tráfico internacional ilícito de produtos tóxicos e
perigosos
20. Gestão ecologicamente racional dos rejeitos perigosos, incluída a
prevenção do tráfico internacional ilícito de rejeitos perigosos
21. Gestão ecologicamente racional dos rejeitos sólidos e questões
relacionadas com as matérias fecais
22. Gestão inócua e ecologicamente racional dos rejeitos radioativos
Seção III. Fortalecimento do papel dos grupos principais
23. Preâmbulo
24. Medidas mundiais em favor da mulher para atingir um
desenvolvimento sustentável e equitativo
25. A infância e a juventude no desenvolvimento sustentável
26. Reconhecimento e fortalecimento do papel das populações indígenas
e suas comunidades
27. Fortalecimento do papel das organizações não-governamentais
associadas na busca de um desenvolvimento sustentável
28. Iniciativas das autoridades locais em apoio ao Programa 21
29. Fortalecimento do papel dos trabalhadores e seus sindicatos
30. Fortalecimento do papel do comércio e da indústria
31. A comunidade científica e tecnológica
32. Fortalecimento do papel dos agricultores
Seção IV. Meios de execução
33. Recursos e mecanismos de financiamento
34. Transferência de tecnologia ecologicamente racional, cooperação e
aumento da capacidade
35. A ciência para o desenvolvimento sustentável
36. Fomento da educação, a capacitação e a concientização
37. Mecanismos nacionais e cooperação internacional para aumentar a
capacidade nacional nos países em desenvolvimento
38. Acordos institucionais internacionais
39. Instrumentos e mecanismos jurídicos internacionais
40. Informação para a adoção de decisões
( Disponível em http://www.ecolnews.com.br/agenda21/)
26
UNEB
2.5.1 CONCEITO DA AGENDA 21
É um documento sugestivo com conceitos que servem de base para a construção e
elaboração de projetos e atitudes que contemplem a formação de sociedades
voltadas à sustentabilidade.
2.5.2 COMO SURGIU A AGENDA 21 NACIONAL
A Organização das Nações Unidas – ONU realizou, no Rio de Janeiro, em 1992, a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD).
A CNUMAD é mais conhecida como Rio 92, referência à cidade que a abrigou,
e também como “Cúpula da Terra” por ter mediado acordos entre os Chefes de
Estado presentes.
179 países participantes da Rio 92 ou Eco 92 acordaram e assinaram a Agenda 21
Global, um programa de ação baseado num documento de 40 capítulos, que constitui
a mais abrangente tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um
novo padrão de desenvolvimento, denominado “desenvolvimento sustentável”. O termo
“Agenda 21” foi usado no sentido de intenções, desejo de mudança para esse
novo modelo de desenvolvimento para o século XXI.
2.5.3 OBJETIVOS DA AGENDA 21 NACIONAL
Promover o Desenvolvimento Sustentável. Isto significa que devemos melhorar a
qualidade de vida do futuro, adotando iniciativas sociais, econômicas e ambientais
que nos levem a um planejamento justo, com vistas a atender às necessidades
humanas enquanto se planeja cuidadosamente os diferentes usos dos recursos
naturais, possibilitando assim o mesmo direito às gerações futuras.
27
UNEB
2.5.4 AGENDA 21 NO BRASIL
A Lei 9.795/99 que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, de forma
transversal, vedada a implantação de uma disciplina específica no currículo de ensino,
conforme elenca o parágrafo 1º do artigo 10, o que caracteriza uma atecnia (ausência
de técnica). O mesmo documento determina a formação complementar dos
professores em suas áreas de atuação, pois a dimensão ambiental deve constar em
todos os níveis e disciplinas. A construção da Agenda 21 impõe a participação dos
atores sociais, com expertises voltadas para a consciência pública e o treinamento,
conforme versa o capítulo 36 da Agenda Global. O texto conclui que “(...) mudanças
urgentes devem ser empreendidas, pois há discrepância entre os objetivos da transversalidade
da educação ambiental e a construção das Agendas 21 Locais” (AGENDA
21 GLOBAL, cap.36).
Alguns estados e municípios brasileiros, já contemplam a formações de suas AGENDAS
21, por lei, conforme exemplificamos a seguir:
Rio de Janeiro - Projeto de Lei 3986/08, aprovado pela Comissão de Desenvolvimento
Econômico, Indústria e Comércio, da Câmara dos Deputados, prevê
que até o ano de 2018 as fontes alternativas de energia devem abastecer,
no mínimo, 10% do consumo anual de eletricidade no país. Entretanto, o projeto
ainda precisa da aprovação de outras comissões do governo para que
possa entrar em vigor.
Município de IJUÍ - Lei Nº 4.990, de 14 de maio de 2009, institui o programa
AGENDA 21 do município de Ijuí, e dá outras providências.
Município de Vacaria - Lei da Agenda 21. LEI N.º 2.857/2009. “Institui o Programa
Agenda 21 do Município de Vacaria, cria o Fórum Agenda 21 de Vacaria.
Estado do Ceará – Projeto de Indicação Nº_50/2005, a “Assembléia Legislativa
do estado do Ceará DECRETA”: CRIA O PROGRAMA AGENDA 21 DO
ESTADO DO CEARÁ E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
Município de Paraty - O Município de Paraty no Estado do Rio de Janeiro institui
o Programa da Agenda 21 Local Municipal através da Lei nº 1722/2009.
Entre outros...
(MEC, 2010)
28
UNEB
O governo municipal, por meio da SME, pula etapas importantes no processo de inserção
no educativo das preposições da 'CARTA DA TERRA', por não ter realizado
um seminário municipal que contemplasse a escolha dos componentes da AGENDA
21 municipal e sua formação. Isso deveria ter ocorrido, por se tratar de sugestionamento
que vem explicitado nos artigos da AGENDA 21 GLOBAL, que, no nosso
país, tornou-se referencial dos parâmetros necessários a contemplar a formação das
AGENDAS 21 locais e nas escolas. A partir daí, sim, seriam disponibilizados meios
para que as escolas, associações de bairros, instituições e outros interessados, formassem
suas AGENDAS 21.
Assim, o projeto 'EDUCAR PARA A CIDADE' da SME do nosso município, adequase
ao que vem como sugestão nos artigos da AGENDA 21 nacional, mas não faz referências
em seu texto ao que sai como referencial e decidido, a partir das discussões
da ECO-92.
Diante do estudo referente à agenda 21 procuramos entender de que forma o gover -
no do município disponibiliza meios que contemplem a formação das agendas 21 locais,
e chegamos assim à COM-VIDA.
2.5.5 O QUE É A COM–VIDA
A COMISSAO DE MEIO AMBIENTE E QUALIDADE DE VIDA – COM-VIDA “(...) é
uma nova forma de organização na escola que reúne a ideia dos jovens de elaborar
a primeira conferência para se criar dentro das escolas conselhos de meio ambiente
escolar vinculados aos círculos de aprendizagem e cultura” (MEC, 2010).
Os estudantes são os principais articuladores, podendo ser:
· O delegado eleito da Conferência de Meio Ambiente na Escola;
· Grupos de estudantes que já realizam ações na área;
· Grêmio estudantil preocupado com o tema.
(Documento COM-VIDA em anexo)
As COM-VIDAS podem ocorrer em espaços variados, quer seja juntando gente de
empresas, organizações da comunidade, Associações (de pais, moradores, bairros,
etc.), em organizações não governamentais (ONGs), igrejas, comitês...
Paulo Freire, já vinha propondo a criação dos Círculos de Aprendizagem e Cultura
em cada quarteirão, em cada comunidade do nosso país. Para ele, esse “... é um lu29
UNEB
gar onde todos têm a palavra, onde todos leem e escrevem o mundo. É um espaço
de trabalho, pesquisa, exposição de práticas, dinâmicas, vivências que possibilitam
a construção coletiva do conhecimento” (FREIRE, 1996).
2.5.6 OBJETIVOS DO PROJETO COM-VIDA:
Após a leitura do projeto 'COM-VIDA', relacionamos abaixo os objetivos do projeto,
como forma de exemplificar a base de embasamento do projeto 'EDUCAR PARA A
CIDADE', da SME.
· Desenvolver e acompanhar a Educação Ambiental na escola de forma
permanente.
· Ajudar a cuidar do Brasil, assumindo como orientação a Carta das
Responsabilidades ‘vamos cuidar do Brasil’.
· Fazer a Agenda 21 na Escola.
Mas a COM-VIDA pode ter muitos outros objetivos, como:
· Participar da construção do Projeto Político-Pedagógico da escola;
· Realizar a Conferência de Meio Ambiente na Escola;
· Promover intercâmbio com outras COM-VIDAS e com as Agendas 21
locais;
· Observar, pesquisar, conservar e ajudar a recuperar o meio ambiente;
· Contribuir para tornar a escola um espaço agradável, democrático e
saudável.
(Documento COM-VIDA em anexo)
2.5.7 PROJETO EDUCAR PARA A CIDADE
Por fim, esta análise se debruça sobre o projeto “Educar para a Cidade” que surgiu
na gestão “Somando Caminhos para Melhorar”, no período – ano letivo 2010, onde,
a partir de observações feitas durante a Jornada Pedagógica da Secretaria Municipal
de Educação da cidade de Irecê, foi salientada a necessidade de se desenvolver
tal projeto. Tomou-se como base experiências de numerosas cidades da Europa e
do Brasil, que, após interferência através das suas Secretarias e gestores nos problemas
de meio ambiente passaram a “... ser conhecidas com Cidades Educadoras”
(Projeto Educar para a Cidade p. 2, anexo).
Assim, a Secretaria Municipal de Educação do município de Irecê, fundamentada na
idéia de VILA, quando diz: “... como uma necessidade sentida pelas próprias instituições
escolares, que reconhecem sua incapacidade de assumir sozinhos os atuais
30
UNEB
conceitos de Educação Integral” (2003, p. 11), e as atribuições da Lei nº 9.795/99
que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, toma a iniciativa de, a partir
do projeto “Educar para a Cidade” possibilitar às Escolas Municipais desenvolverem
atividades que contemplem a discussão de temas ambientais.
Entendemos que o projeto “Educar para a Cidade”, apesar de não se referir diretamente
a Lei 9.795/99, contempla indiretamente a implementação da discussão e
busca de possíveis soluções dos problemas ambientais a partir da escola, tendo
como foco principal, a formação do sujeito ecopedagogicamente consciente com o
olhar voltado a sustentabilidade, que é a principal das proposições da Agenda 21.
Essas idéias de complementaridades vêm assentadas nos entendimentos que Marx
já anunciava dois séculos atrás, conforme verificamos anteriormente. O que vemos
hoje é que já na sua época, Marx profetizava os problemas ambientais e sociais que
vivemos hoje.
Os gestores da educação preocupam-se hoje com a busca de soluções para os problemas
ambientais a partir da escola, a partir da atuação dos educadores junto aos
alunos, a partir da interação propiciada pelo educativo que permita a formação da
conscientização ambiental nos jovens. Por isso decorre a importância de se permitir
às escolas a formação das AGENDAS 21 escolares, como forma de fomentar o envolvimento
e despertar o interesse dos jovens com relação a esses problemas. E
isso, a SME vem buscando êxito com a implementação do projeto 'EDUCAR PARA
A CIDADE'.
31
UNEB
3. METODOLOGIA
3.1 A BUSCA DOS DADOS
Usamos para o desenvolvimento do presente trabalho a pesquisa qualitativa, no seu
âmbito geral, viabilizada por duas técnicas de coleta de dados: a entrevista
estruturada (questionário) e a análise de documentos, conforme consta nos itens
2.5.4 a 2.5.7
3.2 PESQUISA QUALITATIVA
Usamos a pesquisa qualitativa com o intuito de entender a problemática ambiental
dentro do sistema educacional do nosso município. Segundo Minayo (1999, p.80)
“(...) a abordagem qualitativa não pode pretender o alcance da verdade, com o que é
certo ou errado; deve ter como preocupação primeira a compreensão da lógica que
permeia a prática que se dá na realidade”, e essa foi a intenção principal quando da
realização desse trabalho monográfico.
Acreditamos que, desta forma, estaríamos nos aproximando de uma situação
concreta em relação ao propósito oficial da SME em relação ao meio ambiente e a
formação de sujeitos que possam estar comprometidos com preservação dos
nossos recursos naturais.
Para isto firmamos o desenvolvimento da referida pesquisa na SME com o propósito
de contribuir com sugestões que possam ser incorporadas por essa entidade, no
sentido de ampliar seus projetos ambientais.
3.3 ENTREVISTA ESTRUTURADA (QUESTIONÁRIO)
Aplicamos um questionário direcionado a 15 funcionários da SME, onde a pretensão
foi avaliar o interesse e a formação desses sujeitos, com relação à capacitação
voltada aos problemas de meio ambiente, principalmente com os relacionados ao
semi-árido. Segundo Parasuraman (1991):
32
UNEB
“... um questionário é tão somente um conjunto de questões, feito para gerar
os dados necessários para se atingir os objetivos do projeto. Embora o
mesmo autor afirme que nem todos os projetos de pesquisa utilizam essa
forma de instrumento de coleta de dados, o questionário é muito importante
na pesquisa científica, especialmente nas ciências sociais. Construir
questionários não é uma tarefa fácil e aplicar tempo e esforço adequados
para a construção do questionário é uma necessidade, um fator de
diferenciação favorável. Não existe uma metodologia padrão para o projeto
de questionários, porém existem recomendações de diversos autores com
relação a essa importante tarefa no processo de pesquisa científica”.
3.4 ANÁLISE DE DOCUMENTOS
A análise dos documentos, segundo FLORES “(...) consiste na detecção de
unidades de significado e no estudo das relações entre elas e em relação ao todo”
(1994, p.16). Ele se fez necessário para entendermos o projeto 'EDUCAR PARA A
CIDADE', como projeto norteador, onde a SME disponibiliza condições e assessoria
às Escolas Municipais que desenvolvem e incentiva a implantação de projetos
ambientais. Estes projetos devem permitir a fomentação de idéias que contemplem o
desenvolvimento sustentável, a principal das sugestões que vêm postuladas na
AGENDA 21 (art.36).
3.5 ANÁLISE DE DADOS
Nos últimos meses de pesquisa e estudos, passamos a análise de dados dos
documentos e questionários que temos à mão. Entendemos que esse procedimento
nos permitiu identificar o envolvimento e capacidade dos funcionários da SME, e
qual o grau de envolvimento dos mesmos no desenvolvimento de temáticas e/ou
atitudes e projetos que permitam a inserção da discussão ambiental nas escolas
municipais. Segundo Teixeira (2003)
“(...) abordar a análise de dados enquanto etapa do processo de
investigação científica no campo das organizações configura-se como
relevante, uma vez que a tentativa de identificar especificidades pode
significar melhores condições para o desenvolvimento de novos estudos,
com base num melhor e maior entendimento conceitual do processo,
alinhado aos respectivos paradigmas.”
33
UNEB
Em alguns poucos casos podemos perceber coerência das respostas dos
questionários com os objetivos do projeto 'EDUCAR PARA A CIDADE', e ficou
evidente que nem todos os funcionários da SME conhecem o conteúdo do projeto e
mesmo dentre os que conhecem a existência do projeto, poucos o leram ou
conhecem seu conteúdo.
A análise desses documentos seguiu uma cronologia previamente estipulada:
1. Analise dos projetos
2. Analise dos questionários
3. Confronto das informações colhidas
4. Analise dos pontos em comum encontrados nas informações colhidas
Nosso interesse foi entender como os gestores da Educação Municipal de Irecê
promovem e viabilizam a inserção de temas discursivos que abordam os problemas
do ambiente semi-árido (locais) nas escolas e verificar os conhecimentos práticos
desses gestores com relação ao tema ecopedagogia e os conteúdos dos artigos da
'Agenda 21' global e nacional (Objetivos Específicos).
Assim, foi de suma importância o levantamento dos conhecimentos dos funcionários
da SME com relação à temática abordada, como forma de entendermos como os
mesmos desenvolvem suas atividades administrativas que contemplem o
desenvolvimento de projetos socioambientais nas escolas
A partir da compreensão dos dados deste trabalho, elaboramos sugestões que
possam ser avaliadas pela SME, para fins de possível revisão nos projetos
desenvolvidos por este órgão educacional:
1. Desenvolvimento de projetos conjuntos ante a SME e SMA, que visem a
disseminação da idéia de conscientização preservacionista nas escolas
2. Desenvolvimento de projetos que permitam a visitação por parte dos alunos
das escolas, a áreas degradadas.
3. Incentivo a docentes e discentes com relação ao desenvolvimento de projetos
educativos ambientais, por meio de premiação e divulgação dos resultados.
34
UNEB
4. Possibilitar intercâmbio cultural entre alunos do município e dos municípios
vizinhos, em eventos que divulguem e disseminem a idéia de
sustentabilidade.
5. Possibilitar a educadores municipais participarem de eventos
ecopedagógicos, seminários, cursos, oficinas, com intuito de formar
multiplicadores ambientais no município.
6. Realizar dentro da semana de meio ambiente a formação da 'AGENDA 21'
municipal, regimentada dentro dos parâmetros da Lei nacional, amparados
nos artigos da 'AGENDA 21' nacional.
7. Incentivar a formação das 'AGENDAS 21' escolares, promovendo premiação
ao grupo que conseguir melhor desempenho durante o ano.
8. Incentivar com premiações, certificações e publicações dos resultados, a
formação de 'grupos de estudos' nas escolas, orientados por alunos das
Universidades locais, onde os mesmos tenham a possibilidade de
desenvolver junto com as crianças, projetos ambientais.
9. Promover reuniões com a comunidade, nas escolas, em horários que não
coincidam com o horário comercial (sábados à tarde por ex:), onde se
desenvolvam palestras, exibições de vídeos, etc., divulgando os problemas
ambientais do semi-árido e discutir possibilidades de soluções.
10.Promover concursos e encontros onde serão premiados alunos das
faculdades, universidades e ensino médio da micro-região, que produzam
materiais artísticos focando os problemas ambientais do semi-árido.
11.Abrir micro-financiamentos a pesquisa, que permitam a grupos de estudos do
ensino superior, sempre ligados as escolas municipais (envolvimento de
alunos), desenvolver pesquisas, em todas as linhas (produção de vídeos,
estudos ambientais, projetos culturais, etc.), como forma de despertar o
interesse dos jovens ao estudo ambiental.
12.Criar os jogos ecológicos, com a realização de acampamento e formação de
campeonatos com jogos que fomentem a idéia de sustentabilidade.
35
UNEB
3.6 TRABALHANDO COM OS DADOS
Neste trabalho, observamos em alguns poucos casos, existir entre os funcionários
da SME preocupação e atuação voltada à questão ambiental. A maioria das atitudes
são ações de complementaridade, voltadas unicamente à abordagem superficial dos
problemas sem, no entanto, haver a problematização e o envolvimento dos atores
principais.
Entendemos, porém, que há uma fragmentação com relação às atitudes da
Secretária de Educação do Município e a implantação do projeto que tivemos a
oportunidade de examinar. Conforme previu Marx e os cientistas russos
Chayamanov e Abramaway (ver pg.5), os homens tem que se preocupar com o
equilíbrio necessário ao desenvolvimento do ambiente de forma responsável, e essa
responsabilidade cabe ao homem por ser detentor do racione. Isso não será
alcançado enquanto pensarmos homem e natureza de forma separada, enquanto
não conseguirmos educar o jovem ecopedagogicamente.
Pouco se investem no educativo que propicie a inserção, nos currículos das escolas,
das normatizações da AGENDA 21 no nosso município, ou o desenvolvimento do
próprio projeto da Secretaria. A maioria das ações da Secretaria são no nosso
entendimento, contemplativas, pois estão atreladas as exigências de cumprimentos
de metas, como é o caso da aplicabilidade das verbas que advém pelo FUNDEB –
Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica, que, não sendo geridas pela
instância Educacional do Município, sofrem de constantes críticas e adequações
para que justifiquem a sua aplicação e gestão.
“As ações da Secretaria com relação à formação para a sustentabilidade
ainda são tímidas, em função da concepção de educação, que sendo
descontextualizada não permite que os sujeitos tematizem e nem
problematizem a realidade. Porém nessa gestão já estão em curso algumas
ações... A secretaria tem um projeto “Educar para a Cidade” que tem como
foco principal a dimensão ambiental. Ele está em curso, em diferentes
estágios e com diferentes enfoques, pois cada escola escolheu o seu de
acordo com a sua realidade. Dentre estes se destacam: água, caatinga, lixo,
revitalização de quintais, arborização da escola e geração de renda a partir
do reaproveitamento de material reciclável.
(Questionário anexo-SME-IRECÊ 2010)
36
UNEB
As ações individuais por parte das escolas, sugeridas pelo projeto 'EDUCAR PARA
A CIDADE', parecem-nos uma tentativa de atender a uma necessidade evidente das
comunidades em entender e discutir os problemas ambientais da região. Há um
grande esforço da gestão da SME em mudar esse estigma, mas as ações são
pequenas a obsoletas e não têm encontrado respaldo do gestor municipal.
O próprio projeto, não trás em seu conteúdo escrito referências à AGENDA-21, mas
contempla indiretamente alguns de seus artigos e incisos (a ex: artigos 36 e 38). O
projeto vem também, disponibilizando assessoria técnica e administrativa às escolas
que se dispuserem a desenvolver temas e trabalhos que abordem a temática
ambiental, o que já é delegado por lei na AGENDA-21 nacional e de alguns estados
e municípios.
Os entrevistados, com raras exceções, conhecem a temática a que se referem às
perguntas dos questionários, e suas respostas foram desconexas. Não encontramos
ações que fomentem a formação ecoconsciente aos funcionários da educação no
nosso município.
A busca de entendimentos paleontológicos numa visão de caráter holístico (ver pg.
5), a busca do verdadeiro conceito de biosfera, a busca da conscientização de
pertencimento a 'GAIA' perde-se por não existir a cooperação social, a cooperação
dentro do sistema educativo municipal com relação a ações coordenadas, e não se
vê ações que levem à reflexão sobre fatores e relações entre homem e natureza,
que tanto ajudam no desenvolvimento dos problemas ambientais.
A SME do nosso município percebeu a necessidade de abordar, juntamente com os
jovens e educadores os problemas de meio ambiente, e, a partir da semana
pedagógica municipal realizada em fevereiro de 2010, colocou em prática essa
abordagem, contudo, sem considerar as discussões e decisões na esfera do
Governo Federal, que contemplam e auxiliam na implementação de projetos
localizados que permitam o desenvolvimento de estudos que tratem da questão.
O nosso município, em seu projeto norteador 'EDUCAR PARA A CIDADE', não levou
em conta essas deliberações do governo federal. Essa postura, não atende a
necessidade do desenvolvimento de ações na escola que permitam se trabalhar a
conscientização da população e a formação de jovens preocupados com a
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UNEB
sustentabilidade. Por essa razão, a instituição escolar trabalha isoladamente,
desenvolvendo projetos desconexos, que pouco consegue atingir de resultados
favoráveis à causa ambiental, objeto dessa discussão.
O projeto 'EDUCAR PARA A CIDADE' foi fundamentalmente baseado em ações
desenvolvidas de forma isolada por algumas cidades europeias. Entendemos que
houve uma busca quanto pesquisa nos sentido de elaborar um projeto pioneiro, que
colocasse o Município de Irecê numa situação de vanguarda no que concerne a uma
política educacional efetivamente voltada para as preocupações relacionadas ao
meio ambiente, sobretudo para as questões regionais emergentes: saneamento,
desertificação e mudanças climáticas, etc.. Contudo, pelas dificuldades
anteriormente relatadas, tal empreendimento fica no campo mais teórico do que da
promoção e/ou normatização de práticas educacionais relacionadas à valorização do
Meio Ambiente.
A SME, preocupada com as questões ambientais, garante por intermédio da sua
Secretária que um profissional esteja fazendo formação neste campo. “Sendo assim,
foi implantada a AGENDA 21 nas escolas do município, bem como a comissão
COM-VIDA”. (vide questionário anexo). Quando fala das mudanças de
características do nosso município, de um município essencialmente agrícola a
comercial, vai além:
“Acredito que a principal mudança se deu por falta de investimentos para os
agricultores, visto que a região vem sofrendo por falta de chuva. Irecê é uma
cidade de pessoas que trabalham bastante, diante das dificuldades,
procuram manter o foco das pequenas e grandes economias. Com a falta
de produtividade na agricultura o comércio se fortaleceu. Penso que a
cidade deu saltos significativos, mas precisamos resgatar a agricultura local,
e para isso será necessário investir em alternativas para a melhoria dos
plantios, necessitando então de investimentos para os pequenos
agricultores”.
Coordenadora do UNICEF/PPAC da SME, janeiro, 2011
Então, percebemos que os gestores da SME, vêm em seus discursos enfatizando a
necessidade de investimentos na modernização da agricultura local, da necessidade
de resgate da produtividade agrícola no município, mas não se vê em suas
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UNEB
colocações preocupação em entender o porquê desse distanciamento entre
homem/natureza no nosso município. No texto da pedagoga, há a afirmação que a
SME implantou a AGENDA 21 bem como a comissão COM-VIDA nas escolas
municipais. Como isso foi feito?... Se uma das determinantes para a formação da
AGENDA 21 municipal, que vem como determinantes nos artigos da AGENDA 21
nacional e na COM-VIDA do MMA, é a realização do 'Seminário de Ecologia' ou
'Seminário de Meio Ambiente' no município donde nasceriam às comissões COMVIDA
e a formação da AGENDA 21 Municipal, e isso não foi feito. Como então a
SME contemplou a formação das AGENDAS 21 das escolas?...
Segundo a coordenadora, “todas as escolas promovem ações para permitir que
todos se comprometam com os problemas ambientais” (anexo). Todos quem?...
Que ações?... são questões que carecem de esclarecimentos e entendimentos, de
pesquisa, da busca por resultados que possam ser estendidos a outros nichos
sociais, fora do espaço da educação formal.
A maioria dos alunos da escola formal não volta ao trabalho rural. Tornam-se
urbanizados e passam a desempenhar funções voltadas ao comércio. O trabalho
rural continua sendo desenvolvido por pessoas com pouca ou nenhuma formação
escolar. Assim, continuamos degradando, agredindo, destruindo 'GAIA'.
A nossa compreensão a respeito da temática estudada se remete às idéias de Marx.
Quando Ele fala da “(...) crescente exploração, alienação e exploração da força de
trabalho, por um lado, e, por outro, à deterioração da base de produção econômica,
da fonte de riqueza, ou seja, da natureza” (Marx, 1983a, pg. 58).
Assentados num desejo de contemplação de uma solicitação social, os gestores da
SME, esforçam-se em colocar em prática os tópicos dos artigos do projeto 'Educar
Para a Cidade', mas contemplam também a fragmentação das ações. Morin
evidencia essa questão da seguinte forma:
“É curioso que nossa identidade seja completamente ignorada pelos
programas de instrução. Podemos perceber alguns aspectos do homem
biológico em Biologia, alguns aspectos psicológicos em Psicologia, mas a
realidade humana é indecifrável. Somos indivíduos de uma sociedade e
fazemos parte de uma espécie. Mas, ao mesmo tempo em que fazemos
parte de uma sociedade, temos a sociedade como parte de nós, pois desde o
nosso nascimento a cultura se nos imprime. Nós somos de uma espécie, mas
ao mesmo tempo a espécie é em nós e depende de nós. Se nos recusamos a
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UNEB
nos relacionar sexualmente com um parceiro de outro sexo, acabamos com a
espécie. Portanto, o relacionamento entre indivíduo-sociedade-espécie é
como a trindade divina, um dos termos gera o outro e um se encontra no
outro. A realidade humana é trinitária”.
(MORIN, 2004, p.4)
Falta, no nosso entendimento, o encurtamento da gestão da SME, com os atores do
processo, que são os professores e alunos. Assim, apesar de o projeto 'EDUCAR
PARA A CIDADE' não se referir a nenhuma das disposições do MEC ou do MMA,
ainda assim, contempla algumas das sugestões do Governo Federal com relação a
questão ambiental. Isso por considerar que o nosso país fez dos tópicos dos artigos
da AGENDA 21 global, sua bandeira de luta com referência aos problemas de meio
ambiente, o que não poderia ser diferente, pois, 179 nações assim também o
fizeram.
A nossa região carece de sujeitos que vislumbrem uma forma sustentável de
produção como profetizara Marx em seus escritos de 1844, como sonhara
Chayamanov (final do século XIX, inicio do século XX), como apregoa Gadotti
(2004): pesquisem o desenvolvimento de uma pedagogia voltada para a busca da
formação da cidadania planetária, de pertencimento a 'GAIA'. Enfim, precisamos nos
apoiar num ideário que propicie aos alunos, desde cedo, a concepção de que eles
fazem parte da Natureza como um todo e não àquela como ser detentor da natureza
e que a usa de forma exploratória.
Esse trabalho monográfico, não é contemplativo. Busca despertar os leitores, e,
sobretudo a SME, para a importância da formação do cidadão ecopedagógico, que
potencialmente precisa buscar em suas bases, na escola e na educação formal,
apoio e suporte educacional voltado a entender os problemas ambientais. No nosso
entendimento, todo ser vivo pertence a um mesmo ecossistema e faz parte dessa
maravilhosa cadeia de elementos que forma a vida. Por isso, chamamos a atenção
nesse trabalho para que o educador entenda a necessidade de propiciar aos jovens
a possibilidade de envolver-se e preocupar-se com essas questões relacionais entre
homens e natureza, que tanto têm degradado e destruído o que 'GAIA' levou
milênios para construir.
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UNEB
“Seremos capazes de civilizar a terra e fazer com que ela se torne uma
verdadeira pátria? Na minha opinião, não temos que destruir disciplinas,
mas sim integrá-las, reuni-las em uma ciência como, por exemplo, as
ciências da terra (a sismologia, a vulcanologia, a meteorologia), todas elas
articuladas em uma concepção sistêmica da terra. Penso que tudo deva
estar integrado para permitir uma mudança de pensamento; para que se
transforme a concepção fragmentada e dividida do mundo, que impede a
visão total da realidade. Essa visão fragmentada faz com que os problemas
permaneçam invisíveis para muitos, principalmente para muitos
governantes. E hoje que o planeta já está, ao mesmo tempo, unido e
fragmentado, começa a se desenvolver uma ética do gênero humano, para
que possamos superar esse estado de caos e começar, talvez, a civilizar a
terra”.
(MORIN, julho,2000)
Trouxemos a discussão idéias de teóricos diversificados, que discutem tendências e
ideologias diferenciadas, em épocas diferenciadas. Intuímos despertar em todos o
ideário ecopedagógico, um olhar coletivo voltado a entender de que forma a
humanidade vem mantendo essa relação depredatória com a mãe natureza. Nossa
principal preocupação foi demonstrar que existe a possibilidade de instigar no jovem
educando a bandeira preservacionista e a busca de uma relação mais harmônica
entre os seres humanos e a natureza, e que a escola deve estar à frente desse
levante.
Desde Marx, já havia uma preocupação dos homens de boa vontade em despertar a
humanidade para os problemas que enfrentaríamos no nosso tempo se não se
propiciasse mudanças drásticas no sistema relacional que a humanidade vinha
mantendo com o nosso planeta. A humanidade não se ateve que deveria assumir
essa responsabilidade.
Noutros tempos, 100 anos depois de Marx, Chayamanov e Abramawey, observando
os problemas que a sociedade Russa da época sofriam, já em decorrência da
relação do homem com o meio, alertam os controladores sociais (políticos e
sociedade), da importância de se permitir evolução industrial e social, sem agredir
nem modificar a forma de relação que as sociedades mantinham com a natureza até
então. Os danos já eram evidentes, e por deseducação, as comunidades e as
sociedades não se atinham a cuidar do seu maior bem ( a natureza) perseverando
encontrar em tempos futuros condições satisfatórias de vida e desenvolvimento.
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Hoje, no nosso país, evidenciamos a luta de Gadotti frente ao Instituto Paulo freire,
que vem defendendo uma relação mais harmoniosa entre as sociedades e natureza.
Foi o Instituto, o organizador da Eco92, e vem despontando no cenário mundial,
como um forte aliado na luta de se fazer da escola o principal difundidor do ideário
ecopedagogico. Assim, entendemos que a SME tem à sua frente o desafio de
integralizar a idéia do jovem na busca do entendimento, do estudo e pesquisa de
formas mais heterogeneizadas de propiciamento relacional entre “gaia” e seus filhos.
Quando CAPRA fala da linha de mutabilidade que os seres vivos vêm sofrendo, em
decorrência dessa relação desastrosa entre os seres vivos, devemos nos permitir
acompanhar seu raciocínio. A cadeia alimentar vem sendo alterada drasticamente
nos últimos anos, podemos exemplificar essas transformações quando observamos
os meios de produção de alimentos, a transgenicidade, a toxigenicidade, a busca de
desenvolvimento genético na produção de alimentos mais resistentes às pragas e
maior produtividade, a própria disponibilidade de víveres disposta no ambiente
(gazes), a patogenicidade, etc., todas essas transformações entram direta ou
indiretamente pela nossa boca, e CAPRA pode sim ter razão quando justifica os
desmazelos sociais como alijamento causado pelas mutações que os seres
humanos vêm sofrendo ao longo dos tempos.
Cabe-nos quanto educadores, encurtar a distância entre os problemas ambientais
que sofrem nossas comunidades e a escola, como forma de propiciar ao jovem a
tomada de posse desses problemas e pensarem em soluções possíveis, e esse no
nosso entendimento, deve ser a ação da SME com relação a esse problema.
Assim como é com as tecnologias, onde a escola vem correndo atrás do prejuízo,
procurando a todo custo informatizar o sistema educativo e a relação do discente
com as matérias, não devem os gestores educacionais permitir que somente se
discutam os problemas socioambientais na escola, quando os mesmos se
evidenciarem quanto calamidades. A busca da multidisciplinaridade quando se
exemplifica os exercícios em sala de aula, permite ao educador estar em constante
debate com o discente, evidenciando a necessidade da busca de entendimentos e
meios que permitam desenvolver a sustentabilidade.
A SME deve reinventar os sistemas educativos e metodológicos, buscando
capacitação e conscientização dos educadores municipais, propiciando as escolas
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que desenvolvam projetos voltados à problemática ambiental, principalmente
evidenciando os problemas do semi-árido baiano. A interação deve ser instigada a
buscar produções de ONGs e produções das Secretarias de Educação nacional
(MEC), estadual e municipal, para que os alunos saibam que, o nosso país e outros
no mundo, estão preocupados com o futuro da nossa casa, do nosso lar, de 'Gaia'.
Ao final dos anos 80, inicio dos anos 90, inúmeros estudos foram desenvolvidos a
cerca dos problemas ambientais no mundo. Nesse tempo, Ignacy Shacs,
aproveitando-se de conceitos de ecodesenvolvimento formulado em 1973 por
Maurice Strong, que formulava uma nova concepção de desenvolvimento, e apoiado
ainda nas idéias de Mahatma Gandi e Julius Nyerere, formula seis aspectos básicos
que seriam necessários para o desenvolvimento sustentável:
1) A satisfação das necessidades básicas;
2) Solidariedade com as gerações futuras;
3) Envolvimento da população;
4) Preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral;
5) Elaboração de um sistema social, garantindo emprego, segurança e
respeito;
6) Programas de educação;
(CAMPOS, Gloria Goulart da Silva. O MEIO AMBIENTE E A REPROCUÇÃO
SÓCIOMETABÓLICA DO CAPITAL: sustentabilidade insustentável)
Percebemos que, apesar de não ser uma discussão recente, à medida que os
problemas ambientais foram se intensificando no mundo, questionamos mais os
sistemas de produção. Por isso é necessário que os gestores da SME busquem
inserir, no nosso município, as prerrogativas necessárias para implantação da
“AGENDA 21” municipal, para que assim se possa formar as “AGENDAS 21”
escolares, como forma de disseminar os seis conceitos básicos formulados por
Ignacy Shacs (1973).
Apesar de as sugestões referenciadas anteriormente (itens 3.5) serem simples, não
será fácil colocá-las em prática, no contexto atual da educação Municipal, será um
desafio da SME. Isto poderá ser possível se as atitudes de formação e implantação
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dos conselhos e comissões fossem contempladas pela SME, conforme a Agenda 21
Nacional. A participação popular nas assembléias e reuniões que são necessárias à
formação das delegações e comissões que venham a fazer parte dos conselhos é
imprescindível quanto organização capaz de atender aos propósitos formulados por
Ignacy Shacs (1973).
A SME, ao formar A 'AGENDA 21', como conselho composto pala sociedade civil em
comunhão com o funcionalismo público de educação, imbuída de tais formulações,
potencializará um bom exemplo para estimular professores e estudantes no sentido
de formação da AGENDA 21' escolar.
Desta forma, a SME, poder-se-ia desenvolver projetos ambientais de uma forma
concreta com capacidade de envolver os atores principais do processo (os
estudantes) que, geralmente, trazem a escola um contexto de vida que reflete fortes
relações acerca da problemática ambiental local e do mundo. Por isso, se remete à
competência da SME re/formulação de projetos que visem a busca da
conscientização da comunidade educacional, a partir dos jovens que, naturalmente,
têm o perfil de se envolver com temáticas de emergência social.
Eles têm o poder de alavancar, entre si, o interesse coletivo, o interesse na luta, na
predisposição em envolver-se quanto defensores de uma causa; e é disso que
'GAIA' precisa urgentemente. Mas para isto a escola precisa estar amparada,
oficialmente, através de uma nova forma de projeto que valorize a formação dos
sujeitos, conforme o ideário da Ecopedagogia o qual possibilitará um meio
equilibrado de relação entre ser humano e Natureza.
Não podemos aqui, deixar de citar as catástrofes ambientais que todo o planeta vem
sofrendo. O degelo das camadas polares; a metamorfização da camada de ozônio; a
desertificação de grandes áreas; as enchentes; a mortandade de rios; a poluição dos
mares; e muitas outras que, conforme CAPRA (1981, p.13) anuncia, podem estar
acelerando o processo metamorfósico (ao falar do smog causado pela poluição) a
que toda a vida na terra esta exposta. Ele atrela o caos social e socioambiental que
vivemos a essas mudanças de características físicas biológicas. Este autor afirma
que os desmazelos sociais (violência, assassinatos entre familiares, viciados, etc.),
são apenas conseqüências dessas transformações.
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Essas catástrofes devem servir de alerta à humanidade. Já há muito tempo, teóricos
de diferentes tendências ideológicas vêem alertando á humanidade no sentido de
tomar para si a responsabilidade de cuidar de 'GAIA'.
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4. AOS UNIVERSITÁRIOS
Diante dos resultados e entendimentos, conclamamos neste trabalho, aos gestores
da educação do nosso município, a responsabilidade de assumir o compromisso de
formar uma comunidade mais consciente de sua responsabilidade ambiental. E
nesse contexto, estão inclusos os universitários, principalmente os que se permitem
formarem-se educadores. GADOTTI em 'PEDAGOGIA DA TERRA', deseja que
todas as pedagogias fundem-se em um propósito maior: formarem juntas a
ECOPEDAGOGIA, numa perspectiva preservacionista, com um olhar voltado à
sustentabilidade e a construção de um ambiente equilibrado para as gerações atuais
e futuras .
Por vezes, quando da apresentação de trabalhos anteriores, ao inserirmos na fala
ou escritos temas ecopedagogicos, nossos colegas evidenciam suas antipatias em
aprofundar os entendimentos com relação aos problemas do meio ambiente.
A leitura de vários teóricos, de várias tendências ideológicas e épocas, nos
permitiram perceber que a preocupação com o meio ambiente no educativo não é
uma questão nova, e cabe aos futuros educadores, se aperceberem da necessidade
de reeducarem-se sócio-ambientalmente. As catástrofes que nosso país vem
sofrendo nos últimos anos nos servem de alerta com relação à necessidade de
inserção na escola de metodologias que contemplem a multidisciplinaridade, que
permitam ao professor exemplificação da sua matéria usando temas ambientais ou
que busquem a desenvolver a conscientização e sustentabilidade nos primeiros
anos de educação do sujeito.
Nas universidades, muitos professores ainda se dão ao direito de entenderem
desenvolvimento sustentável ou ecopedagógico, como modismo. E furtam-se o
direito de não se envolverem, e não preocupam-se em formar pedagogos imbuídos
de uma formação ecoconsciente. Os alunos por vezes, apenas desenvolvem
atividades que contemplem as solicitações da academia, e estão mais preocupados
em conseguir o certificado de nível superior.
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Aos jovens marxistas, que lutam pelas causas sociais, pela manutenção das ONG's
e disseminação de associações, devem se aperceber que o maior alerta do
'CAPITAL' de Marx, foi a respeito da relação depredatória que o sistema capitalista
coopita os homens a desenvolverem com a natureza.
Lembrem-se, segundo Marx (1962), a relação humana com o sistema de capital e a
globalização levaram a humanidade à exploração desenfreada da natureza, sem
haver uma preocupação em se preservar o que é finito. E vai além, o continuísmo do
modo de produção capitalista, a partir da maximização dos lucros o que, segundo
seu entendimento, conduz tendencialmente a uma “... crescente exploração,
alienação e exploração da força de trabalho, por um lado, e, por outro, à
deteriorização da base de produção econômica, da fonte de riqueza, ou seja, da
natureza” (MARX, 1983a, p.58), pois segundo Ele, “... a natureza não gera valor de
troca, porém, ela é fonte de valor de uso” (MARX, 1962, p.51).
Neste sentido, os seres humanos e a natureza se encontram em posição de troca e
reciprocidade, e isso está evidenciado nas descrições dos manuscritos econômicofilosóficos
marxianos de 1844.
Onde então os jovens marxistas vão buscar justificativas para não se envolverem
socialmente na formação de multiplicadores ambientais?... Nossos amigos
envolvem-se em ONG's que possibilitam aos mesmos o ganho de bons salários,
sem se importarem com o perfil de atitude dessas ONG's. Enquanto isso, as
escolas, as comunidades, a sociedade, ficam a mercê e tornam-se reféns desse
novo perfil de educadores.
Para Morin , agimos muitas vezes de forma a propiciar o nosso desenvolvimento
individual, sem nos importar com as consequências sociais e a ética, evidenciando
“... o egocentrismo, a necessidade de auto justificativa, a tendência a projetar sobre
o outro a causa do mal fazem com que cada um minta para si próprio, sem detectar
esta mentira da qual,contudo, é o autor” (2000, p.21).
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O livro de Morin, 'Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro”, é leitura
obrigatória a todos os educadores, e Marx (O CAPITAL) também o é, desde que o
leitor esteja desarmado e desprovido de alienações, para que perceba nas
entrelinhas a mensagem que o mestre no estudo das relações sociais com o sistema
nos tenta passar.
A sociedade está carente de bons educadores, e as cidades, os estados e o país
estão carentes de profissionais da educação imbuídos dessa visão preservacionista.
Entendemos que o melhor caminho para formar esse sujeito necessário ao meio
ambiente, é a escola. Assim, a importância de nos preocuparmos com a formação
de educadores ecosocialmente preocupados, que tenham em suas determinações
profissionais, a formação ambientalista nas crianças e jovens.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O nosso trabalho chega ao fim da primeira etapa. Os estudos e entendimentos,
objetivaram entender as ações da SME com relação à inserção de temas e trabalhos
que possibilitem as escolas desenvolverem atividades que promovam a formação de
sujeitos ambientalmente preocupados. Os estudos e pesquisas nos mostraram que
alcançar os resultados esperados com relação a entender as ações da SME não
contemplaram o término do nosso trabalho, pois entendemos que existe a
necessidade da busca do olhar a partir da escola.
Tivemos acesso ao projeto 'EDUCAR PARA A CIDADE' e isso nos possibilitou
verificar que há uma preocupação da SME com a capacitação dos educadores do
município voltada para a questão dos problemas ambientais, ademais, nos foi
possível verificar o envolvimento e compreensão desses atores com relação aos
problemas que nossa região e sociedade enfrentam nessa degradante relação
homem/meio.
Fomos despertados também, para a necessidade de trabalho complementar a
posteriori, que nos possibilite entender a ação da escola e comunidade a partir do
que disponibiliza a SME.
Nos questionários respondidos pelos funcionários da SME, fica claro que “as ações
da Secretaria com relação à formação para a sustentabilidade ainda são tímidas, em
função da concepção de educação, que sendo descontextualizada não permite que
os sujeitos tematizem e nem problematizem a realidade” (Questionário anexo), e não
entendemos como ações isoladas, desenvolvidas pelas escolas, possam promover a
inserção de temas e trabalhos que facilitam a despertar na comunidade escolar o
sentimento preservacionista.
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No nosso município, principalmente por ser o município sede do centro-norte do
semiárido baiano, muitas ações e estudos devem ainda ser implementadas, na
busca de encurtar a distância que existe no desenvolvimento de ações coordenadas,
entre a comunidade escolar, o povo e o poder público, na busca do desenvolvimento
de trabalhos que possibilitem despertar o olhar ecopedagógico nos alunos.
Percebemos haver uma desconexão entre as atuações da SME e as ações do
governo federal. O município vem ainda, por meio dos seus gestores, contemplando
ações que privilegiam o ego individual, o 'eu fiz'. Enquanto não haver a
conscientização dos gestores que 'fazer' é obrigação e dever do funcionário público,
não alcançaremos resultados significativos com relação aos problemas de meio
ambiente, nem como abordar esses problemas na escola
Esse trabalho, conseguiu demonstrar que existe uma preocupação da SME com os
problemas ambientais do nosso município e região, bem como, demonstra
claramente, as ações que essa secretaria vem tomando como forma de
disponibilizar às escolas municipais condições de desenvolverem projetos e
trabalhos que envolvam as crianças na discussão da temática ambiental. Assim,
examinamos os documentos e desenvolvemos a pesquisa, que nos possibilitou
entender se as ações da SME estão são condizentes com as necessidades da
escola e das comunidades.
Chegamos a conclusão que o projeto 'EDUCAR PARA A CIDADE', que baliza as
ações da SME com relação ao tema Meio Ambiente, não oferece subsídios
suficientes para que as escolas desenvolvam bons projetos e trabalhos. Concluímos
também, que o projeto não foi desenvolvido dentro das normas e solicitações que
vêm explicitadas na 'AGENDA 21' nacional, e sendo assim, o nosso município vem
agindo de forma isolada no desenvolvimento de trabalhos e projetos dentro das
escolas, o que dificulta o envolvimento dos atores principais (educadores e
educandos) no desenvolvimento das ações.
Quanto a afirmação dos gestores da SME com relação a formação da 'AGENDA 21'
no nosso município, não encontramos documentos comprobatórios de tal afirmativa.
O projeto desenvolvido (EDUCAR PARA A CIDADE), apenas contempla algumas
das solicitações da 'AGENDA 21' nacional, indiretamente, por tratar o seu conteúdo
do mesmo tema (meio ambiente). No nosso entendimento, ações e projetos
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coordenados e vinculados as determinações da 'AGENDA 21' nacional,
possibilitariam desenvolver-se trabalhos que agregariam maiores condições de
alcançar-se resultados e envolvimento dos alunos, educadores e comunidade, e
assim, talvez, se despertasse nos jovens o sentimento de pertencimento a natureza,
a Gaia, e de como é importante cuidar da mesma, para que todos, no futuro, tenham
a oportunidade de desfrutar do nosso lar, e viver em harmonia.
6. REFERÊNCIAS
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NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO - PNUD - PROJETO
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2010, 22.15Hs.
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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

DIDÁTICA COMO PROPICIADORA DE FORMAÇÃO ÉTICA NA ESCOLA
DE ENSINO SUPERIOR

Este texto tem o objetivo de disseminar a importância de se discutir as metodologias e didáticas usadas pelos educadores em espaços de ensino superior. Pretendemos levantar a discussão com relação a observação e destino que é dado pelos mestres, quando entendem a oportunidade de implementação e fomentação de se inserir nos embates com os alunos de temas cotidianos, que permitam a busca de entendimentos
relacionados as posturas dos futuros profissionais junto às comunidades. O que
percebemos nas relações em sala de aula ou espaços de educação, quando da interação,
é que, geralmente, o que fica evidente para o aluno é a possibilidade de crescimento
individual, tanto acadêmico, quanto financeiro.
Não devemos descartar a importância dessas características de formação de caráter,
mas, é importante que se comece a trabalhar a possibilidade de mudança dessa
característica formativa da personalidade dos futuros profissionais, em todas as áreas de formação de nível superior. Formação de personalidade sim, e isso, posso falar com propriedade, pois quando do meu trilhar nos quatro anos de academia no curso de Pedagogia na Universidade do Estado da Bahia, campus XVI, Irecê, pude observar como mudaram os interesses dos meus colegas mais jovens com relação as suas pretensões futuras, e a forma de atuação da maioria deles hoje, quanto sujeitos formadores de opiniões, inseridos nos espaços de educação das séries iniciais no nosso município.
Nos nossos dias, o PROUNI – Programa Universidade para Todos, o SISU – Sistema de
Seleção Unificada (Programas do Governo Federal), e o próprio vestibular, que teve
diminuída a concorrência, vem possibilitando cada vez mais que jovens de baixa renda
tenha acesso aos cursos de nível superior. Estranhamente, esses sujeitos vem se
distanciando cada vez mais das comunidades de baixa renda, ou quando, por força do
emprego, se veem forçados desempenhar suas atividades profissionais junto a essas
comunidades, se deixam influenciar por nomeados inescrupulosos, e passam a dar maior
importância a preservação do emprego. Porque isso acontece?... e, como acontece?...
Vejamos. Alguns jovens tem o privilégio de chegar aos cursos superiores de ponta, os
cursos que possibilitam ganhos maiores e formam profissionais valorizados no mercado
de trabalho. Esses profissionais, os médicos, engenheiros, arquitetos, profissionais das TICs, etc., quase que em sua totalidade, não desenvolvem nenhum trabalho voltado à comunidade. Vemos hoje, nas cidades menores em nosso país a enorme dificuldade na
contratação de profissionais da saúde. Os médicos, não se interessam pelos salários que as pequenas prefeituras podem pagar, e quando trabalham nessas prefeituras, acumulam cargos em diversos lugares, prestam um serviço de péssima qualidade, e por vezes, recebem sem trabalhar, pela impossibilidade de cumprir a carga horária a que se propõem.
Quantos desses profissionais conhecemos que desenvolvem um bom trabalho voltado as
comunidade de baixa renda nos nossos municípios do semiárido nordestino?... Existem
raras exceções.
Nos cursos superiores menos valorizados, como é o caso da Pedagogia, Psicologia,
Assistência Social, a concorrência pelas vagas oferecidas nos concursos públicos é
acirrada. Os salários não são convidativos para quem já atua em outras áreas, mesmo
que de nível técnico, más, para os jovens recém-formados é uma oportunidade de
profissionalidade na prática. O que se observa, é que esses jovens quando se inserem no mercado de trabalho, preocupam-se muito mais com a ascensão profissional do que em
desenvolver um bom trabalho. O exemplo disso, já vem sendo implantado na forma de
atuar desse jovem desde a instituição de ensino, e é evidenciado com maior incidência
nos espaços de trabalho.
Os cargos de chefia nas instituições públicas municipais, aqui na nossa região, são em sua maioria cargos de confiança, ocupados por profissionais indicados ou apadrinhados, que têm costas quentes e que em sua maioria não têm experiência nem
profissionalização condizentes com os cargos que ocupam. Defendem o “fazer o que se
manda”, mascaram as instituições, e por vezes, aos olhos dos visitantes, parece que é
prestado um serviço de qualidade. Esses profissionais não querem trabalho. São pessoas voltadas a participação de eventos, que acumulam diplomas e certificados emitidos pelas instituições governamentais, que possibilitam cada vez mais acumulo de percentuais de
aumento em seus salários.
A maioria desses profissionais, não tem características de aptidão necessárias a
desenvolverem trabalhos junto a comunidade. Não gostam das pessoas, e desenvolvem
seus trabalhos apenas para cumprirem metas que são exigidas pelas instâncias
superiores.
Isso é perpassado aos jovens profissionais, e os educadores já deviam estar atentos a
essa problemática quando interagem com seus alunos. Já deviam estar preocupados em
formar profissionais capacitados, criteriosos, conscientes de seu valor profissional, mas que tenham em seu perfil de profissionalidade, uma preocupação maior em devolver a sociedade um pouco do que lhes foi disponibilizado pelo investimento do dinheiro público.
Essa corrente que desvirtua o sentimento ético e profissional do jovem, deve ser
quebrada desde o primeiro contato do mesmo com a escola de ensino superior, mas não
é isso que acontece. A didática usada em sala de aula é elitista, prega o oportunismo, evidencia ao jovem proveniente das comunidades periféricas, a força que o mesmo tem e a possibilidade de mudança que lhe é dada, mas esquece de evidenciar a oportunidade que o mesmo tem de intervir na sua comunidade.
Fora da academia, esses jovens percebem os erros e mascaramentos que usam dentro
das instituições públicas, más já não são tão éticos e fazem vistas grossas. Sabem que muitas formas de agir prejudicam os povos, mas são covardes, não têm coragem de
enfrentamento, de intervir, e assim, o que vemos é o continuísmo, os ricos cada vez mais ricos, e os pobres, mais pobres. Os funcionários públicos (os chefes), demonstram ostentativamente a forma 'correta' de agir, para que o município não sofra sansões e assim, os empregos sejam mantidos. Bons profissionais são os apáticos, pois aceitam calados, desde que não sejam prejudicados, ou os espertalhões, pois inserem-se no sistema e passam a encher os bolsos e colher privilégios.
Se discute muito pouco ética nas academias. O que alimenta a degradação do serviço
público no nosso país é a má atuação dos profissionais, tanto por participação, quanto por conivência, quando estão inseridos nas instituições. A didática permite ao profissional educador, sem mudar os conteúdos propostos nas ementas, abordar junto com os alunos, de forma multidisciplinar, a discussão dessa questão essencial.
Devemos ter a didática como instrumento propiciador de fomento dessa discussão entre
educadores e educandos. Devemos discutir a questão da ação didática usada nas
relações professos aluno, levando-se em consideração que a mesma vem dentro da ação
do educador como elemento concessor do desenvolvimento da docência e suas
interferências no desenvolvimento das aulas, das interações.
Historicamente, podemos constatar que a preocupação com a didática nas relações
educativas já é há muito tempo tema de estudo e discussão. No século XVII, Comênius
em seus estudos, discute a viagem e relações flutuantes entre o ensino e a
aprendizagem, procurando entender o ponto de fusão entre a ação do professor e a ação
do aluno, a produção de conhecimentos a partir das relações docentes e discentes
(Gasparim, 1994. p.70-72), das interações. Do/Discência encerram-se no sentido de fazer algo, de que alguém o está fazendo, e isso se refere as ações dos atores em espaços educativos. Originam-se de docere, que significa ensinar, fazer aprender, e de discere, que traduz o sentido do aprendizado, e seus significados são antônimos, porem complementam-se e interligam-se.
As grandes dificuldades didáticas no ensino superior, estão relacionadas à articulação entre ensinar e aprender. Discutir capacidade de ensinar, não se relaciona com capacidade de conhecimento. Nem sempre o melhor conhecedor ou melhor capacitado é o melhor educador. Dominar e ter vasta gama de conhecimentos, não quer dizer que o profissional consiga traduzir esse conteudismo e transpô-lo de forma a produzir conhecimentos ou oportunizar acontecer situações de aprendizagem.
É importante que educadores se preocupem com as relações educativas, com as
abordagens das temáticas e de que forma se propõem a mediarem as interações, para
que os jovens não confundam oportunizar e falta de conduta. O que preocupa, é a
percepção de que os poucos educadores que entendam a força da ação didática, a usam
para interesses não associados ao desenvolvimento do sujeito social nos alunos. Existe todo um esquema de engendramento de ações dentro das escolas superiores. Os jovens são comprados por monitorias, por oportunidades de emprego, são levados a
desenvolverem leituras e interpretações condizentes com os interesses das pesquisas
dos mestrandos ou doutorandos, e entregam-se à inércia intelectual.
Em leituras de diversos trabalhos monográficos disponíveis na biblioteca da UNEB,
Campus XVI, percebe-se que os temas são repetitivos, e poucos têm a coragem de
inovar. Outrossim, quando despertam alunos criteriosos e que pretendem buscar
inovações, os mesmos são levados ao descredito pela própria instituição, e por vezes
desistem ou adequam-se as pretensões dos orientadores. Um exemplo disso, foi a
aversão com relação à inserção tecnológica no campus. O conteúdo dos trabalhos,
apesar da mudança dos títulos, são igualitários, idênticos a trabalhos apresentados nos anos anteriores e destinam-se a ocupação de espaço nas prateleiras, não propiciam
mudanças e evolução.
Outro dado interessante, é se observar hoje, onde estão atuando os alunos que se
destacaram como fomentadores de mudança nos últimos três anos no campos XVI. Os
melhores estão inseridos nas ONG's e encontram-se sob suspeita perante a sociedade.
Outros estão fadados à obscuridade nos empregos públicos. A ação didática de alguns
educadores levaram todos os que se destacaram no Grupo de Estudos de Marxistas do
Campus, a atuarem no terceiro setor. Mas onde está a devolutiva social?... Essas
instituições não são bem vistas pelos povos nos municípios do nosso território, e em sua maioria estão envoltas em falcatruas ou encontram-se sob investigação.
A realidade é que esses jovens hoje ganham salários razoáveis e estão preocupados em
mascarar a ação dessas instituições para manterem seus empregos. Hoje, algumas
dessas instituições já se inserem nas secretárias municipais, direta ou indiretamente, à procura de oportunidades na busca de dividendos, outras já se tornaram empresas governamentais, que são usadas para o mantenimento da situação e engodo.
Esses desvios de personalidade foram inseridos e desenvolvidos nesses jovens a partir
da ação metodológica e didática de profissionais educadores dentro do campus. Claro
que não se furta a responsabilidade do sujeito, em sua maioria já traziam em seus perfis socioeducativos características que permitiram ao educador moldá-los as necessidades das instituições e nelas inseri-los.
Nesses 4 anos, acompanhamos discursos defensores do PT – Partido dos Trabalhadores,
do MST – Movimento dos Sem Terra, das ONG's – Organizações não Governamentais,
defensores do não desenvolvimento rural (contra o agronegócio, contra a inserção
tecnológica, contra a agroindústria), contra toda forma de desenvolvimento humano
possível na nossa região, pois o continuísmo e permanência da miséria, são subsídios
para mantenimento dos investimentos em ações assistencialistas, alimentando o a
situacionismo. A miséria tornou-se um negócio.
O artigo 10 da Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI (1998, p.26)
evidencia a importância de se buscar iniciativas de desenvolvimento da prática docente universitária:
Devem ser tomadas procidências adequadas para pesquisar, atualizar e melhorar as habilidades pedagógicas, por meio de programas apropriados de desenvolvimento de
pessoal, estimulando a inovação constante dos currículos e dos métodos de ensino aprendizagem. Muitas instituições de Ensino Superior têm se dedicado, há anos, a propor iniciativas voltadas para a formação continuada de professores. No brasil, o o primeiro órgão voltado à assessoria pedagógica do docente universitário foi o
Laboratório de Ensino Superior da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. BERBEL, 1994
Talvez, a observância pelas instituições das prerrogativas do que diz esse artigo, venha a possibilitar mudanças no perfil formativo dos futuros profissionais educadores. Os gestores das instituições, devem estar atentos as intencionalidades dos profissionais que atuam junto aos jovens. Estão-se preparando um perfil de profissional que não interessa ao mescado de trabalho. O exemplo disso podemos ver no ultimo concurso do REDA da prefeitura de Irecê. Todos os aprovados, quase que a totalidade são oriundos dos cursos particulares à distância (um ou dois encontros de 4 horas por semana).
É importante que se tomem providências para que os educadores não subestimem o
poder da didática, e todos, sem exceção, tomem posse dessas competências, para que
não só os mal intencionados as usem. Os puros de alma, tem o defeito de sempre
correrem atrás, nunca do lado ou a frente. Discutir problemas como os que indiretamente o artigo aborda, tem que se tornar um hábito dentro das academias. A ética, tem se tornado discussão de segunda importância, e deve ser abordada de forma multidisciplinar sempre que a interação assim o permitir.
REFERÊNCIAS:
BEBERL, N. Metodologia do ensino superior: realidade e significado, Campinas: Papirus,
1994.
GASPARIN, J. L. Comênio ou da arte de ensinar tudo a todos. Campinas: Papirus, 1998.
MASETTO, M. Docência na universidade. Campinas: Papirus, 1998.
UNESCO, Declaração mundial sobre educação superior no século XXI: visão e ação.
Piracicaba: UNIMEP, 1998.