quinta-feira, 3 de novembro de 2011

DIDÁTICA COMO PROPICIADORA DE FORMAÇÃO ÉTICA NA ESCOLA
DE ENSINO SUPERIOR

Este texto tem o objetivo de disseminar a importância de se discutir as metodologias e didáticas usadas pelos educadores em espaços de ensino superior. Pretendemos levantar a discussão com relação a observação e destino que é dado pelos mestres, quando entendem a oportunidade de implementação e fomentação de se inserir nos embates com os alunos de temas cotidianos, que permitam a busca de entendimentos
relacionados as posturas dos futuros profissionais junto às comunidades. O que
percebemos nas relações em sala de aula ou espaços de educação, quando da interação,
é que, geralmente, o que fica evidente para o aluno é a possibilidade de crescimento
individual, tanto acadêmico, quanto financeiro.
Não devemos descartar a importância dessas características de formação de caráter,
mas, é importante que se comece a trabalhar a possibilidade de mudança dessa
característica formativa da personalidade dos futuros profissionais, em todas as áreas de formação de nível superior. Formação de personalidade sim, e isso, posso falar com propriedade, pois quando do meu trilhar nos quatro anos de academia no curso de Pedagogia na Universidade do Estado da Bahia, campus XVI, Irecê, pude observar como mudaram os interesses dos meus colegas mais jovens com relação as suas pretensões futuras, e a forma de atuação da maioria deles hoje, quanto sujeitos formadores de opiniões, inseridos nos espaços de educação das séries iniciais no nosso município.
Nos nossos dias, o PROUNI – Programa Universidade para Todos, o SISU – Sistema de
Seleção Unificada (Programas do Governo Federal), e o próprio vestibular, que teve
diminuída a concorrência, vem possibilitando cada vez mais que jovens de baixa renda
tenha acesso aos cursos de nível superior. Estranhamente, esses sujeitos vem se
distanciando cada vez mais das comunidades de baixa renda, ou quando, por força do
emprego, se veem forçados desempenhar suas atividades profissionais junto a essas
comunidades, se deixam influenciar por nomeados inescrupulosos, e passam a dar maior
importância a preservação do emprego. Porque isso acontece?... e, como acontece?...
Vejamos. Alguns jovens tem o privilégio de chegar aos cursos superiores de ponta, os
cursos que possibilitam ganhos maiores e formam profissionais valorizados no mercado
de trabalho. Esses profissionais, os médicos, engenheiros, arquitetos, profissionais das TICs, etc., quase que em sua totalidade, não desenvolvem nenhum trabalho voltado à comunidade. Vemos hoje, nas cidades menores em nosso país a enorme dificuldade na
contratação de profissionais da saúde. Os médicos, não se interessam pelos salários que as pequenas prefeituras podem pagar, e quando trabalham nessas prefeituras, acumulam cargos em diversos lugares, prestam um serviço de péssima qualidade, e por vezes, recebem sem trabalhar, pela impossibilidade de cumprir a carga horária a que se propõem.
Quantos desses profissionais conhecemos que desenvolvem um bom trabalho voltado as
comunidade de baixa renda nos nossos municípios do semiárido nordestino?... Existem
raras exceções.
Nos cursos superiores menos valorizados, como é o caso da Pedagogia, Psicologia,
Assistência Social, a concorrência pelas vagas oferecidas nos concursos públicos é
acirrada. Os salários não são convidativos para quem já atua em outras áreas, mesmo
que de nível técnico, más, para os jovens recém-formados é uma oportunidade de
profissionalidade na prática. O que se observa, é que esses jovens quando se inserem no mercado de trabalho, preocupam-se muito mais com a ascensão profissional do que em
desenvolver um bom trabalho. O exemplo disso, já vem sendo implantado na forma de
atuar desse jovem desde a instituição de ensino, e é evidenciado com maior incidência
nos espaços de trabalho.
Os cargos de chefia nas instituições públicas municipais, aqui na nossa região, são em sua maioria cargos de confiança, ocupados por profissionais indicados ou apadrinhados, que têm costas quentes e que em sua maioria não têm experiência nem
profissionalização condizentes com os cargos que ocupam. Defendem o “fazer o que se
manda”, mascaram as instituições, e por vezes, aos olhos dos visitantes, parece que é
prestado um serviço de qualidade. Esses profissionais não querem trabalho. São pessoas voltadas a participação de eventos, que acumulam diplomas e certificados emitidos pelas instituições governamentais, que possibilitam cada vez mais acumulo de percentuais de
aumento em seus salários.
A maioria desses profissionais, não tem características de aptidão necessárias a
desenvolverem trabalhos junto a comunidade. Não gostam das pessoas, e desenvolvem
seus trabalhos apenas para cumprirem metas que são exigidas pelas instâncias
superiores.
Isso é perpassado aos jovens profissionais, e os educadores já deviam estar atentos a
essa problemática quando interagem com seus alunos. Já deviam estar preocupados em
formar profissionais capacitados, criteriosos, conscientes de seu valor profissional, mas que tenham em seu perfil de profissionalidade, uma preocupação maior em devolver a sociedade um pouco do que lhes foi disponibilizado pelo investimento do dinheiro público.
Essa corrente que desvirtua o sentimento ético e profissional do jovem, deve ser
quebrada desde o primeiro contato do mesmo com a escola de ensino superior, mas não
é isso que acontece. A didática usada em sala de aula é elitista, prega o oportunismo, evidencia ao jovem proveniente das comunidades periféricas, a força que o mesmo tem e a possibilidade de mudança que lhe é dada, mas esquece de evidenciar a oportunidade que o mesmo tem de intervir na sua comunidade.
Fora da academia, esses jovens percebem os erros e mascaramentos que usam dentro
das instituições públicas, más já não são tão éticos e fazem vistas grossas. Sabem que muitas formas de agir prejudicam os povos, mas são covardes, não têm coragem de
enfrentamento, de intervir, e assim, o que vemos é o continuísmo, os ricos cada vez mais ricos, e os pobres, mais pobres. Os funcionários públicos (os chefes), demonstram ostentativamente a forma 'correta' de agir, para que o município não sofra sansões e assim, os empregos sejam mantidos. Bons profissionais são os apáticos, pois aceitam calados, desde que não sejam prejudicados, ou os espertalhões, pois inserem-se no sistema e passam a encher os bolsos e colher privilégios.
Se discute muito pouco ética nas academias. O que alimenta a degradação do serviço
público no nosso país é a má atuação dos profissionais, tanto por participação, quanto por conivência, quando estão inseridos nas instituições. A didática permite ao profissional educador, sem mudar os conteúdos propostos nas ementas, abordar junto com os alunos, de forma multidisciplinar, a discussão dessa questão essencial.
Devemos ter a didática como instrumento propiciador de fomento dessa discussão entre
educadores e educandos. Devemos discutir a questão da ação didática usada nas
relações professos aluno, levando-se em consideração que a mesma vem dentro da ação
do educador como elemento concessor do desenvolvimento da docência e suas
interferências no desenvolvimento das aulas, das interações.
Historicamente, podemos constatar que a preocupação com a didática nas relações
educativas já é há muito tempo tema de estudo e discussão. No século XVII, Comênius
em seus estudos, discute a viagem e relações flutuantes entre o ensino e a
aprendizagem, procurando entender o ponto de fusão entre a ação do professor e a ação
do aluno, a produção de conhecimentos a partir das relações docentes e discentes
(Gasparim, 1994. p.70-72), das interações. Do/Discência encerram-se no sentido de fazer algo, de que alguém o está fazendo, e isso se refere as ações dos atores em espaços educativos. Originam-se de docere, que significa ensinar, fazer aprender, e de discere, que traduz o sentido do aprendizado, e seus significados são antônimos, porem complementam-se e interligam-se.
As grandes dificuldades didáticas no ensino superior, estão relacionadas à articulação entre ensinar e aprender. Discutir capacidade de ensinar, não se relaciona com capacidade de conhecimento. Nem sempre o melhor conhecedor ou melhor capacitado é o melhor educador. Dominar e ter vasta gama de conhecimentos, não quer dizer que o profissional consiga traduzir esse conteudismo e transpô-lo de forma a produzir conhecimentos ou oportunizar acontecer situações de aprendizagem.
É importante que educadores se preocupem com as relações educativas, com as
abordagens das temáticas e de que forma se propõem a mediarem as interações, para
que os jovens não confundam oportunizar e falta de conduta. O que preocupa, é a
percepção de que os poucos educadores que entendam a força da ação didática, a usam
para interesses não associados ao desenvolvimento do sujeito social nos alunos. Existe todo um esquema de engendramento de ações dentro das escolas superiores. Os jovens são comprados por monitorias, por oportunidades de emprego, são levados a
desenvolverem leituras e interpretações condizentes com os interesses das pesquisas
dos mestrandos ou doutorandos, e entregam-se à inércia intelectual.
Em leituras de diversos trabalhos monográficos disponíveis na biblioteca da UNEB,
Campus XVI, percebe-se que os temas são repetitivos, e poucos têm a coragem de
inovar. Outrossim, quando despertam alunos criteriosos e que pretendem buscar
inovações, os mesmos são levados ao descredito pela própria instituição, e por vezes
desistem ou adequam-se as pretensões dos orientadores. Um exemplo disso, foi a
aversão com relação à inserção tecnológica no campus. O conteúdo dos trabalhos,
apesar da mudança dos títulos, são igualitários, idênticos a trabalhos apresentados nos anos anteriores e destinam-se a ocupação de espaço nas prateleiras, não propiciam
mudanças e evolução.
Outro dado interessante, é se observar hoje, onde estão atuando os alunos que se
destacaram como fomentadores de mudança nos últimos três anos no campos XVI. Os
melhores estão inseridos nas ONG's e encontram-se sob suspeita perante a sociedade.
Outros estão fadados à obscuridade nos empregos públicos. A ação didática de alguns
educadores levaram todos os que se destacaram no Grupo de Estudos de Marxistas do
Campus, a atuarem no terceiro setor. Mas onde está a devolutiva social?... Essas
instituições não são bem vistas pelos povos nos municípios do nosso território, e em sua maioria estão envoltas em falcatruas ou encontram-se sob investigação.
A realidade é que esses jovens hoje ganham salários razoáveis e estão preocupados em
mascarar a ação dessas instituições para manterem seus empregos. Hoje, algumas
dessas instituições já se inserem nas secretárias municipais, direta ou indiretamente, à procura de oportunidades na busca de dividendos, outras já se tornaram empresas governamentais, que são usadas para o mantenimento da situação e engodo.
Esses desvios de personalidade foram inseridos e desenvolvidos nesses jovens a partir
da ação metodológica e didática de profissionais educadores dentro do campus. Claro
que não se furta a responsabilidade do sujeito, em sua maioria já traziam em seus perfis socioeducativos características que permitiram ao educador moldá-los as necessidades das instituições e nelas inseri-los.
Nesses 4 anos, acompanhamos discursos defensores do PT – Partido dos Trabalhadores,
do MST – Movimento dos Sem Terra, das ONG's – Organizações não Governamentais,
defensores do não desenvolvimento rural (contra o agronegócio, contra a inserção
tecnológica, contra a agroindústria), contra toda forma de desenvolvimento humano
possível na nossa região, pois o continuísmo e permanência da miséria, são subsídios
para mantenimento dos investimentos em ações assistencialistas, alimentando o a
situacionismo. A miséria tornou-se um negócio.
O artigo 10 da Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI (1998, p.26)
evidencia a importância de se buscar iniciativas de desenvolvimento da prática docente universitária:
Devem ser tomadas procidências adequadas para pesquisar, atualizar e melhorar as habilidades pedagógicas, por meio de programas apropriados de desenvolvimento de
pessoal, estimulando a inovação constante dos currículos e dos métodos de ensino aprendizagem. Muitas instituições de Ensino Superior têm se dedicado, há anos, a propor iniciativas voltadas para a formação continuada de professores. No brasil, o o primeiro órgão voltado à assessoria pedagógica do docente universitário foi o
Laboratório de Ensino Superior da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. BERBEL, 1994
Talvez, a observância pelas instituições das prerrogativas do que diz esse artigo, venha a possibilitar mudanças no perfil formativo dos futuros profissionais educadores. Os gestores das instituições, devem estar atentos as intencionalidades dos profissionais que atuam junto aos jovens. Estão-se preparando um perfil de profissional que não interessa ao mescado de trabalho. O exemplo disso podemos ver no ultimo concurso do REDA da prefeitura de Irecê. Todos os aprovados, quase que a totalidade são oriundos dos cursos particulares à distância (um ou dois encontros de 4 horas por semana).
É importante que se tomem providências para que os educadores não subestimem o
poder da didática, e todos, sem exceção, tomem posse dessas competências, para que
não só os mal intencionados as usem. Os puros de alma, tem o defeito de sempre
correrem atrás, nunca do lado ou a frente. Discutir problemas como os que indiretamente o artigo aborda, tem que se tornar um hábito dentro das academias. A ética, tem se tornado discussão de segunda importância, e deve ser abordada de forma multidisciplinar sempre que a interação assim o permitir.
REFERÊNCIAS:
BEBERL, N. Metodologia do ensino superior: realidade e significado, Campinas: Papirus,
1994.
GASPARIN, J. L. Comênio ou da arte de ensinar tudo a todos. Campinas: Papirus, 1998.
MASETTO, M. Docência na universidade. Campinas: Papirus, 1998.
UNESCO, Declaração mundial sobre educação superior no século XXI: visão e ação.
Piracicaba: UNIMEP, 1998.

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