domingo, 27 de julho de 2008

UNIVERSIDADE, SALA DE AULA... FAÇA O QUE SE PEDE.

UNIVERSIDADE, SALA DE AULA... FAÇA O QUE SE PEDE.


Fazer universidade aos 47 anos, é um privilégio para poucos, ainda mais quando se é de uma classe menos favorecida. Nesse texto, tento de forma simples colocar em debate meus conflitos, alegrias a decepções, que afloram nos meus dias de estudante, a partir da vivencia com o âmbito educativo. Quando eu via nos programas que tinha acesso, a desenvoltura dos embates discursivos de alunos universitários em espaços acadêmicos, que acontecia em programas da mídia, eu sonhava em poder aprender e ter a liberdade de construir conhecimento. Achava eu nesse tempo, que os espaços universitários, eram acima de tudo, lugares que geravam muita controvérsia e propiciavam a discussão, e assim se passava então a produção do conhecimento puro e novo, com o intuito de colocar em cheque o que esta posto em todos os espaços de desenvolvimento humano, visando o melhoramento do quadro social caótico que a humanidade se encontra.
O conflitante é se ter a constatação que isso não ocorre, que mesmo dentro de um espaço de construção do pensamento e desenvolvimento de inteligências que visem melhorar o quadro melodramático que se encontram os povos, não encontramos a tão sonhada liberdade de construção. Muitas vezes, esse cerceamento da liberdade de produção individual, é mantida pela covardia dos próprios estudantes, que vêm na aquisição de um certificado (diploma) universitário, a possibilidade de ascensão social, de ganho de capital, e por covardia, ou necessidades, deixam de produzir, deixam de pensar, deixam do construir a tão sonhada critica social que a humanidade tão anseia. Vejamos, se o fazem, a internalizam, e assim sendo, que bem pode advir essa atitude ao social?... Não se permite na academia a crítica as instituições que atuam na cidade. Não se critica o fato dessas instituições fecharem suas portas às visitações dos alunos das Universidades Públicas, e não o fazerem aos alunos das escolas particulares. O incompreensível, é que não se permite a crítica, a instituição que passa a ser discutida, fecha o acesso aos estudantes, aos cientistas que somos quanto estudantes. Se o que fazem está extremamente certo, a atende fidedignamente aos anseios e necessidades da comunidade onde atuam, porque se fecham a critica?... o que se faz não está totalmente isento de anexação, e a criticidade feita em sala de aula, vem com a intencionalidade de produção de conhecimento novo. “Quando discuto que o método aplicado por determinada escola no meu entender está ultrapassado, não estou dizendo que a escola é ruim ou que está agindo de forma errada, e sim, que, dada a velocidade do desenvolvimento, a todo instante se produz conhecimento novo, e uma metodologia que a pouco era tida como excelente, passa a defasagem por aparecerem novas necessidades no educativo, e que a busca pela perfeição deve ser eterna, o educador deve ser um eterno aprendiz, um eterno pesquisador das possibilidades educacionais, tanto em relação as melhorias, ao currículo, ao método, ao sistema, a matéria, a tudo”. A escola, vive do possível, e faz o possível, e muitas atendem dentro do possível o que se propõe. Mas a escola vive do que chega a sua disposição. Mesmo aquelas que são exemplos de atuação e organização, têm deficiências, e deveriam sim ser totalmente abertas aos estudantes e suas críticas, deveriam ser propiciados estágios e produções individuais dos estudantes com relação a sua percepção em decorrência dos estágios, e após, serem discutidas essas percepções e sugestões em reuniões organizadas pela própria escola e a comunidade a qual se encontram inseridas, aí sim, estaríamos produzindo conhecimento e levando-o ao propiciamento do desenvolvimento humano. O que se vê, é muito diferente. Fecha-se a escola à crítica, a acovardam-se os universitários, por acharem que fecham-se assim os estágios a as possibilidades de emprego. Pensei em desistir do curso de pedagogia, pois direciono os estudos ao campo da pesquisa educativa e das novas tecnologias na educação, e essa impossibilidade de acesso ou de expressão, tira a essência a que me proponho. Essa busca causou uma antipatia com os colegas de sala, e às vezes é insuportável a convivência, não entendo o pôr que de se inflamar essas diferenças e leva-las para o individual. Numa classe com 46 estudantes de pedagogia, é de se esperar que aflorem diferenças gritantes, ainda mais quando se sabe que cada indivíduo vem em busca na universidade dos seus interesses, e segundo minha percepção, a maioria, busca mesmo crescimento individual que propiciem o desenvolvimento do capital e orgulho, o crescimento que lhes propiciem posição e ascensão social, prestígio em detrimento da possibilidade de melhoria no social.
A Universidade, por sua vez, age, de forma a coibir as liberdades individuais no que diz respeito a produção cognitiva do conhecimento ou a busca do novo. Os estudantes são bombardeados com informações filosóficas, sociológicas, educativas, mas penso as vezes, que esperam que produzamos e passemos a expressar o pensamento puro, aquele que vem de dentro do sujeito, quando não mais se sentirem responsáveis pela produção, pela escrita, pela fala dos alunos. Nunca assisti ou presenciei a explanação de uma idéia que não fosse direcionada ou podada, enquadrada no eixo daquilo a que a aula esta proposta. ”Zuenir Ventura disse em entrevista a Serginho Groisman, no programa ‘altas horas’, que viveu passeatas, foi as ruas, brigou, mas que essa vivencia deve servir de exemplificação e não para copismo atitudacional”... eram outros tempos, devemos estudar tudo o que chegar a nossa mão, para termos um entendimento coerente às necessidades das pessoas e comunidades, e não nos acometermos dos mesmos erros do passado. Não é sem conhecimento de causa que o Senador Cristovan Buarque profere que a falência do Socialismo deveu-se ao descaso do sistema à importância da industrialização, bem como o descrédito do capitalismo, deve-se ao propiciamento da ganância, e propõe hoje, a fundamentação das soluções sociais centradas no Educacionismo. Todos os grandes homens, foram gênios no seu tempo, e é isso que devemos admirar e aprender, e não trazermos e mantermos atitudes que foram soluções ou que foram revolucionárias à sua época, a serem postas nos nossos dias. Diuturnamente vemos alunos pensantes que se sentem tristes e solitários, pois não encontram apoio na sua busca, e então o caminho do aprendizado torna-se árduo e difícil. O isolamento dentro do espaço educativo, descentra o pensamento e o aluno produtor do conhecimento volta-se aos cuidados em não adquirir inimizades, em cuidar a não sair da linha de pensamento do professor, pois isso profere na inquietação e no descaso, e muitas vezes quando tenta participar da aula, geralmente torna-se pessoa não grata. Na ultima demanda na sala, o mesmo aluno que levou para fora dos muros da universidade, a discussão que fora desencadeada por mim, a respeito da impossibilidade da escola fazer mais pelos alunos (e isso aconteceu porque deixei escapar na fala o nome de uma escola municipal na qual o aluno trabalha), esse mesmo aluno, falou também, que a maior instituição filantrópica do nosso município “é uma escola seletiva, excludente, e que não propicia o ingresso ou permanência do aluno pobre”...ora...você esta certo, e foi após essa critica e discussão, que ousei criticar a impossibilidade da escola municipal fazer mas pelos seus alunos. Só que não pensei na possibilidade de estar fechando portas aos universitários, pensei discutirmos em busca de entendimentos e soluções a problemas que, mesmo a melhor escola de nível estadual ou municipal da nossa microrregião, sofrem, mesmo quando dão o melhor, ainda perduram na falta de capacitação e problemas correlativos. Um exemplo disso, é a diferença de salário que são pagos pelo Município aos professores, quando comparados com o município vizinho de Jacobina, que paga a seus professores R$850,00 (oitocentos e cinqüenta reais) mensais, contra os R$420,00 (quatrocentos e vinte reais) pagos pelo nosso município, e ainda tem o problema dos professores contratados, que recebem esse salário descontados de R$50,00, a titulo não sei de que, sendo que eles não têm direito a nada, a nada que se refere a leis trabalhistas. Aí vem novamente a evidência a fala do Senador Cristovan Buarque, quando defende a federatividade da escola, para que esses desmandos administrativos não ocorram. Problemas como esse, deveriam ser debatidos pelos estudantes de pedagogia, a causa, as preposições, conseqüências no educativo, no social, etc...Não se discute por exemplo: que tipo de escola está sendo oferecida às crianças da Vila Feliz?...sabem pelo menos responder se lá tem escola?...claro que não sabem. Há quatro anos passados morei na cidade de Canarana, e trabalhei muito quando no lançamento da candidatura do atual Prefeito daquela Cidade, foram proferidas muitas promessas com relação à educação, inclusive com relação ao curso de extensão da UNEB naquela Cidade, o que não aconteceu, porque isso não ocorreu?...Hoje em conversas com alunos de outras escolas daquela cidade ouço criticas e referencias a atitudes e desmandos. Deveríamos discutir isso em sala, pesquisar, deveríamos levantar na internet os valores enviados pelo governo aos municípios de nossa região para educação, e compararmos com o que se gasta em educação. Garanto que isso causaria horrores. O que sinto é que esses problemas de ordem social, não têm respaldo dentro da academia nem do corpo discente. Ninguém se preocupa com o que está sendo feito...ninguém faz nada, nem se discute nada. Eu pesquiso pouco, não tenho tanto tempo assim, mas o pouco que pesquiso, é de causar horrores e náuseas. As autoridades se quisessem, poderiam também pesquisar e tomar providências. O que me preocupa, é que os estudantes de pedagogia, que deveriam preocupar-se com o que acontece, correlacionando com a conseqüências disso no educativo, não o fazem. Se não querem se envolver no questionamento político, que pelo menos o façam junto as comunidades. Que sejam visitadas associações de bairros, vilas, roças...que nos mostrem a realidade que devemos combater e tentar mudar. Existem monitorias em projetos onde se atende telefones, arquivam-se papeis, mas não existem monitorias de visitação a esses espaços comunitários, para levantamento de dados que propiciem o desenvolvimento ou melhorias nessas comunidades. A partir de agora, vou passar a produzir vídeos para mostrar esses desmazelos. O lema é o seguinte: “Se a escola não tem estrutura para nos mostrar o lado obscuro da educação, vou tentar traze-lo à escola”.
Sinto uma aflição muito grande, quando olho para minhas netas, e vejo que as pessoas que vão cuidar da educação das mesmas, são colegas como os meus. Percebo que se não houver um conclame à pedagogia qualitativa, que pense realmente na formação de pessoas melhores, não vou alcançar as mudanças sociais sonhadas por todos, e vejo que isso somente acontecerá, talvez, numa geração que ainda não nasceu. Existem muitas escolas no nosso município, mas somente três escolas municipais estão abertas ao estudo pedagógico e à visitação dos estudantes...Porque?

Etemicio Lídio Soares