quinta-feira, 7 de março de 2013

O MUNDO A PARTIR DA VALORIZAÇÃO DO SUJEITO... CRIANÇA!

UESSBA - Unidades de Ensino Superior do Sertão da Bahia S/C Ltda FACULDADE DO SERTÃO O MUNDO A PARTIR DA VALORIZAÇÃO DO SUJEITO... CRIANÇA! IRECÊ 2012 O MUNDO A PARTIR DA VALORIZAÇÃO DO SUJEITO... CRIANÇA! ETEMICIO LIDIO SOARES FILHO ORIENTADORA: Profª M.Sc. Rosirene Rodrigues dos Santos ___________________________________ NOTA. Trabalho monográfico apresentado a UESSBA, como parte de avaliação de conclusão do curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia Institucional e Clínica. IRECÊ – 2012 SUMÁRIO: 1. RESUMO................................................................................ 4 2. INTRODUÇÃO.......................................................................... 5 3. JUSTIFICATIVA........................................................................ 6 4. A INFÂNCIA DESDE A ANTIGUIDADE..................................... 7 4.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA CRIANÇA...................... 8 4.2 A CONTRIBUIÇÃO DOS CONTOS INFANTIS NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL.................................... 12 4.3 HANS CHRISTIAN ANDERSEN E SOFIA-CONDESSA DE SÉGUR: ÍCONES QUANTO AUTORES DA LITERATURA INFANTIL....................................................................... 15 4.4 O HOMEM QUE PROFETIZOU A EVOLUÇÃO TECNOLOGICA EM LIVROS DESTINADOS A JOVENS E CRIANÇAS... E ADULTOS...................................................................... 18 5. A NECESSIDADE DO PROFISSIONAL PSICOPEDAGOGO.....20 5.1 AS CAUSAS DOS PROBLEMAS DE ‘DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM’.......................................................... 22 5.2 A AÇÃO DO PSICOPEDAGOGO......................................24 6. REFERÊNCIAS............................................................................ 28 1. RESUMO Este trabalho visa fomentar a discussão em torno da importância da ação do profissional psicopedagogo nas instituições educativas, levando em consideração todas as modificações causadas pela pós-modernidade no processo de evolução do sujeito aprendiz, e como essas modificações interferem nas relações desses sujeitos com os processos educativos disponibilizados pelo modelo de sociedade vigente. Discorre ainda, sobre a historicidade dessas modificações, desde a antiguidade aos nossos dias, e como foram inseridas tais modificações nos contextos de cognição das crianças, como as famílias (modelo único de sociedade natural segundo Rousseau), incorporaram tais modificações das relações no seio familiar, e quais as interferências dessas modificações nas interações do sujeito que aprende com a produção de saberes. Diante disso, esclarece qual a real necessidade e ação do profissional psicopedagogo quanto profissional que interfere nas relações de aprendizagem humana, desde a infância e durante todo o processo de produção de conhecimento do ser humao. Palavras chave: educação; evolução; interação; dificuldades; intervenção ABSTRACT This paper aims to stimulate discussion around the importance of the action of professional psychopedagogists in educational institutions, taking into account all the modifications caused by postmodernity in the evolution process of the learner, and how these changes affect the relations of these subjects with the processes education provided by the current model of society. Elaborates further on the historicity of these changes, from antiquity to the present day, and how such changes have been inserted in the contexts of children's cognition, how families (single model of natural society according to Rousseau) have incorporated these changes in relations within the family and interference which these changes in the interactions of the individual who learns from the production of knowledge. Given this, this explains the real need and action psychopedagogists professional and professional relationships that interfere with human learning, from early childhood and throughout the production process to be aware of human. Keywords: education, evolution, interaction, difficulties; intervention 2. INTRODUÇÃO A humanidade avançou em desenvolvimento nos últimos 100 anos a passos galopantes, conquistando nesse período de tempo um legado de descobertas em todas as áreas cognitivas de evolução humana, quer científica, tecnológica, físico-matemática, educacional, etc., nunca imagináveis pelo maior de todos os cientistas até o inicio do século XX. Cabe-nos quanto educadores questionar quão diferentes foram esses aspectos de evolução, e por que no ultimo século os avanços evolutivos têm se dado a tão grande velocidade, que mesmo os espaços educacionais com maior estrutura, não conseguem acompanhar a velocidade com que nossas crianças e jovens interagem diante do que lhes é disposto quanto informação. Há 50 anos, ou menos ainda, as crianças nasciam com os olhos fechados, e vários dias se passavam até que os abrissem. Vários meses se passavam até que conseguissem rolar no berço, ano até sentar-se, falavam somente após dois anos de idade. Isso já não acontece nos nossos dias. Nossas crianças andam com menos de um ano de idade e falam logo em seguida. Interagem com o meio no primeiro mês de vida e logo passam a distinguir elementos do seu cotidiano, interagindo com os objetos e com o meio. Consequentemente, recebemos em nossas escolas crianças com o intelecto precocemente desenvolvido, crianças que discutem sexualidade, meio ambiente, relações familiares, etc., claro que dados os limites de conhecimento de mundo que essas crianças apresentam, até porque, suas interações com o meio limitam-se ao espaço escolar e familiar, e não seria de esperar que em sua maioria as crianças apresentassem conhecimento de mundo maior que o conhecimento permitido pelo espaço físico onde interagem. Historicamente, o reconhecimento da criança quanto sujeito interagente no contexto de mundo, coincide em data com o boom evolutivo que a humanidade vem vivenciando. Até o início do século XIX, as crianças eram vistas como pequenos adultos, e somente após os 10 anos de idade era colocado à disposição das mesmas, o que se dispunha quanto elemento propiciador de educabilidade. Eram escolas mecanicistas, excludentes e dissociadas das produções cientificas da época. A saber, bastava que se aprendesse a soletração e assinar o nome, que já satisfazia a necessidade da indústria da época, isso para as crianças urbanas, o que não se estendia a zona rural. 3. JUSTIFICATIVA A preeminência desta monografia consiste em investigar os diferentes aspectos da evolução da infância no recorte temporal desde a Grécia até a contemporaneidade ocidental, entendendo como a disponibilidade informacional proveniente dessa evolução, interfere no processo formativo do sujeito aprendiz e qual a ação e posicionamento do profissional psicopedagogo frente aos problemas de dificuldade de aprendizagem apresentados pelos sujeitos em decorrência da interação com os novos sistemas de aprendizado, frente às novas metodologias e maneabilidades do espaço educativo e tomada de posse e produção de novos conhecimentos por parte desses sujeitos aprendentes. Não poderíamos aqui abordar tal temática, se não nos propuséssemos a entender como esse processo de evolução aconteceu, estudando como as sociedades propiciaram desenvolver a interação das crianças com a educação, disponibilizando meios de acessibilidade à informação por parte desses sujeitos, a elementos interacionais e formadores das sociedades de cada época, que permitiram o despertar do sujeito aprendente, interacionista e criterioso. Essa disponibilização informacional não aconteceu de forma direta, mas durante séculos foram inseridos nos textos que os pequenos tinham acesso, por seus autores, e assim, faz-se importante também, o estudo e entendimento de como os autores dos textos infantis inseriam nos conteúdos dessas publicações tais elementos (informações sobre as sociedades da época e sobre as aflições dos mais pobres) e como os educadores e famílias interagiam, de posse dessas informações. A importância maior é entendermos como as crianças se adequaram a essa nova realidade e quais os problemas que surgiram nas interações dos sujeitos aprendentes com os processos educativos em nossos dias e qual o olhar e posicionamento do profissional psicopedagogo diante de tal problemática. É de suma importância conhecer esses textos, seus autores e suas intencionalidades quando fizeram os pequenos saberem dos problemas que afligiam as sociedades de cada época e qual foi o resultado dessa interação, para que possamos entender como essas modificações comportamentais interferiram nas relações dos pequenos com os processos educativos, e quais os problemas de aprendizagem que surgiram em decorrência dessa mudança de comportamento que surge no mundo diante dessa evolução. Problematizando, dissertando e discutindo os pormenores dessas relações, será possível entender e discutir a posição do profissional psicopedagogo e qual sua postura diante dessa realidade. 4. A INFÂNCIA DESDE A ANTIGUIDADE A preocupação com a infância é antiga. Para Aristóteles, por exemplo, “... era indispensável que o Estado não se imiscuísse nas relações familiares pelo fato do filho ser sua propriedade e também um prolongamento de si mesmo, a partir da procriação.” (Youf, 2000: 12), mas, para Ele, a alma das crianças não diferia da alma dos animais, pois não apresentava racionalidade, e assim, a criança não tinha ‘direitos’ porque o direito de repartição de bens cabia aos adultos (cidadãos), e não cabia aos adultos serem governados por um ou por um grupo de homens, e sim pela lei. Os cidadãos existem na polis, com autoridade entre os beneficiários. Na sociedade familiar (doméstica), universo infantil, isso não existia, e nenhuma família iria prejudicar a seus membros para mudar essa característica, e assim, Aristóteles afirmava não existir juridicidade na família. A criança existia quão somente quanto ‘extensão’ do pai, o que não caracterizava direito a uma relação jurídica. Essa característica não muda nos séculos posteriores, pois a criança não era vista quanto sujeito. Segundo Ariés (1981), até o século XII ou XIII, inexistia na Europa o conceito de infância como viria a ocorrer mais tarde. Isso passa a acontecer a partir do Iluminismo. A criança passou as ser vista como sujeito frágil, que carece de cuidados especiais, de educação, e esse conceito é reforçado na modernidade, cooptando com a evolução cultural e histórica da humanidade. 4.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA CRIANÇA Até os séculos XVII E XVIII a criança era vista como um adulto em miniatura, e tão logo se livrava da dependência física, era considerada adulta, transpondo a juventude e as idades da vida correspondiam apenas às funções sociais, que eram delimitadas pelo físico: idade dos brinquedos; da escola; do amor e dos esportes; da corte; da cavalaria e por ultimo, a idade secundária, dos homens e do estudo. Ignoravam-se as peculiaridades de cada período de vida (Ariés, 1981). A icnografia da época estudada pelo autor comprova a ausência das crianças em suas obras de arte, e quando as mesmas raramente aparecem, são apresentadas como adultos mirins, musculosos, e até o século XVII se recusava veementemente a morfologia infantil, conforme escreveu o autor: “... a criança era raramente representada. Quando apareciam, eram pintadas ou esculpidas como pequenos homenzinhos, com uma musculatura adulta. Durante a idade média, a maleabilidade e a plasticidade da infância eram contidas pelos artistas. Outro fator determinante para esse desinteresse pela criança seria a tolerância ao infanticídio. O bem estar dos filhos ainda não era prioridade para os pais. As crianças morriam por falda de cuidados, sufocadas pelos pais enquanto dormiam na mesma cama ou mesmo afogadas durante a cerimônia de batizado. ‘Perdi dois ou três filhos, não sem tristeza, mas sem desespero’, reconhece Montaigne.” (Montaigne, apud Ariés, 1981, p.157) Nem todos os historiadores e estudiosos do universo infantil concordam com Ariés. Kuhmann Jr. (2000), estudando documentos antigos, afirma que existia uma preocupação com a educação e bem estar da criança antes mesmo da idade média. O autor considera que a percepção da infância pelos adultos, data de idade mais remota, e que sempre existiu preocupação com a aprendizagem, com a religiosidade, com brinquedos, roupas, alimentação e objetos apropriados à criança. Os processos de aprendizagens ocorriam nas famílias de todas as crianças, ricas ou pobres, aliando a cultura dessas crianças ao mundo dos adultos, possibilitado principalmente, pela liberdade em espaços compartilhados. As crianças aprendiam observando, convivendo, e nessa ótica, as relações familiares eram muito importantes na formação do sujeito adulto, pois fornecia subsídios e elementos para a interoperatividade juvenil relacionada à formação dos conceitos que levariam pelo resto da vida. Podemos interpretar então, que a afirmação do sentimento da infância no século XVIII vê a educação ou a institucionalização da criança como responsabilidade da família, percebendo que os filhos são frutos da possibilidade da ascensão social. “Pais enxergam através de seus filhos a possibilidade da administração dos bens familiares e, consequentemente, a ampliação dessa possessão” (LIMA, Sandra Vaz. Conceito de Infância. Disponível em: http://www.artigonal.com/educacao-artigos/conceito-de-infancia-1863419.html acessado em: 06/08/2012 21h10min) Dentro desse contexto familiar é que a educação das crianças foi desenvolvida através dos tempos, assentada em posicionamentos de moralistas e de educadores conservadores, principalmente após o surgimento da família nuclear gerada dentro de padrões conservacionistas, simbolizados em comportamentos parentais que marcam as relações pais, mães e crianças, fazendo com que, com o decorrer do tempo, as famílias começassem a encarregar-se dos filhos. Em consequência, surge a imposição de regras e normas no novo modelo de educação e a criança passa a ser mais bem doutrinada, preparada para atender ao perfil de uma nova sociedade que surgia. Tal concepção de indivíduo que aparece, faz com que a criança seja alvo do controle familiar ou do grupo social em que ela está inserida, e a criança passa a ter um papel central na relação de prioridades da família, nas preocupações dos pais e da sociedade, fortalecendo os lações entre crianças e adultos, e a partir desse momento, as crianças passam a ser vistas como sujeito social e coletivo, e a sociedade, passa a preocupar-se com a educação infantil. Tais fatores são elementos imprescindíveis nas mudanças de todas as características evolutivas do mundo moderno. Assim, surge um novo elemento da estruturação social no mundo, que carece de instituições educacionais (surgem as primeiras escolas como conhecemos), sugerindo que os adultos compreenderam as peculiaridades das crianças, da infância, e a importância social e moral de que as mesmas frequentem instituições adaptadas ao acolhimento e educabilidade. Com isso, as crianças passam a ocupar papel central nas preocupações familiares e na sociedade, fazendo parte de uma nova organização social fruto da sociedade evolutiva politico-econômico-sociais da nova época, a moderna. Nessa época, surge Rousseau, que vem promovendo em seus estudos uma revolução pedagógica, ao afirmar que a criança não é um adulto em miniatura, destacando ainda que a criança é um ser com características próprias em seus ideais e interesses, formulando princípios educacionais que perduram até os nossos dias, principalmente quando afirma que: “... a verdadeira finalidade da educação é ensinar a criança a viver e aprender a exercer a liberdade. A " educação natural" preconizada por ele, encontra-se retratada na obra O Emílio, na qual, de forma romanceada, expõe suas concepções, através dos relatos da educação de um jovem, acompanhado por um preceptor ideal e afastado da sociedade corruptora. Essa educação naturalista, não significa retornar a uma vida selvagem, primitiva, isolada, mas sim, afastada dos costumes da aristocracia da época, da vida artificial que girava em torno das convenções sociais. A educação deveria levar homem a agir por interesses naturais e não por imposição de regras exteriores e artificiais, pois só assim, o homem poderia ser o dono de si próprio. Outro aspecto da educação natural está na não aceitação, por Rousseau, de uma educação intelectualista, que fatalmente levaria ao ensino formal e livresco. O homem não se constitui apenas de intelecto, pois, disposições primitivas, nele presentes, como: as emoções, os sentidos, os instintos e os sentimentos, existem antes do pensamento elaborado; estas dimensões primitivas são para ele, mais dignas de confiança, do que os hábitos de pensamento que foram forjados pela sociedade e impostos ao indivíduo. (disponível em: http://www.geocities.ws/animate032000/images/textos/Rousseau.htm , acessado 06/ago/2012 22h05min. Rousseau revoluciona a pedagogia educacional com ideias novas, que vêm combater ideias que prevaleciam até então, principalmente ao quebrar o dogma de que educar era preparar a criança segundo os interesses dos adultos e de suas vidas. Ele introduziu concepções novas onde a criança era um ser dotado de interesses próprios, construídos diante da interação com o meio. Com suas ideias, ele derrubou as concepções vigentes que pregavam ser a educação o processo pelo qual a criança passa a adquirir conhecimentos, atitudes e hábitos armazenados pela civilização, sem transformações. Em ‘Emílio’ (ensaio pedagógico sob forma de romance), ele traça as linhas gerais que deveriam ser seguidas com o objetivo de fazer da criança um adulto bom e trata dos princípios para evitar que a criança se torne mal, já que o pressuposto básico do autor é a crença na bondade natural do homem. Outro pressuposto de seu pensamento consiste em atribuir à civilização a responsabilidade pela origem do mal. Consequentemente, os objetivos da educação, para Rousseau, comportam dois aspectos: o desenvolvimento das potencialidades naturais da criança e seu afastamento dos males sociais. Considerava cada fase da vida como tendo características próprias. Tanto o homem como a sociedade se modificam, e a educação é elemento fundamental para a necessária adaptação a essas modificações. Se cada fase da vida tem suas características próprias, a educação inicial, não poderia mais ser considerada uma preparação para a vida, da maneira que era concebida pelos educadores à época. Rousseau afirmou que a educação não vem de fora, é a expressão livre da criança no seu contato com a natureza. Ao contrário da rígida disciplina e excessivo uso da memória vigente até então, propôs serem trabalhadas com a criança: o brinquedo, o desporto, agricultura e uso de instrumentos de variados ofícios, linguagem, canto, aritmética e geometria. Através dessas atividades a criança estaria medindo, contando, pesando; portanto, estariam sendo desenvolvidas atividades relacionadas à vida e aos seus interesses. Segundo Arbousse-Baside e Machado (2012), http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/emilio.htm “Rousseau, no contexto de sua época, formulou princípios educacionais que permanecem até nossos dias, principalmente enquanto afirmava: que a verdadeira finalidade da educação era ensinar a criança a viver e a aprender a exercer a liberdade. Para ele, a criança não é educada para Deus, nem para a vida em sociedade, mas sim, para si mesma: " Viver é o que eu desejo ensinar-lhe. “Quando sair das minhas mãos, ele não será magistrado, soldado ou sacerdote, ele será, antes de tudo, um homem”. (in Os Pensadores: Rousseau, São Paulo: Ed. Abril, 1978, introd. pgs. XVII-XVIII), 4.2 A CONTRIBUIÇÃO DOS CONTOS INFANTIS NO DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL DAS CRIANÇAS A literatura infantil surge desde os primórdios da humanidade, quando os seres humanos passam a dominar o poder da linguagem. Naqueles tempos os homens passaram a relatar aos colegas suas aventuras durante a caça, ao se encontrarem em volta da fogueira, quando retornavam as aldeias. As crianças por vezes, escutavam esses relatos e passavam as estórias adiante, em conversas com outras crianças, da forma que as entendiam, adequando a conotação de estórias, de forma a divertirem-se. Entretanto, a literatura infantil somente toma forma e importância a partir do inicio do século XVIII na Europa, época em que as crianças passam a ser vistas como crianças e não como adultos em miniatura. A partir daí, deve-se visualizar a literatura infantil sob dois aspectos: a escrita e a lendária. A lendária nasce da necessidade das mães da época em comunicar-se com os filhos, de contar as coisas do cotidiano da época e os fatos que os rodeavam, sendo apenas relatadas, mas não registradas de forma escrita. As estórias escritas surgem com as primeiras publicações destinadas a contar estórias para as crianças. Os primeiros livros infantis surgem no século XVII, quando passam a escrita das estórias contadas oralmente. Inicialmente as estórias eram satíricas, concebidas por intelectuais que tentavam ditar usos, que lutavam contra a opressão, costumes e personagens que oprimiam o povo. As mensagens eram transmitidas pelos autores sob um manto fantasioso, de forma que possibilitasse aos mesmos a fuga do despotismo, e assim, escondiam suas intenções nessa forma de escrita (Cadermartori, 1994). No inicio do século XIX, surgem as primeiras obras destinadas a crianças, e essas obras tornam-se best sellers mundiais e ultrapassam a barreira do tempo. Ainda hoje, obras daquele tempo são lidas e traduzidas para muitos idiomas, e sua maioria são adaptadas para a Banda Desenhada, desenhos animados e cinema. Andersen, Dickens, Condessa de Segur, Julio Verne, Lewis Carroll, Mark Twain, Johanna Spyri, com a sua “Heidi “, Stevensen, De Amicis, que fez chorar gerações sucessivas sobre as páginas do “coração “,Luisa May Alcott, Collodi cujo boneco de madeira, a quem deu o nome de Pinoquio, continua vivo e de boa saúde, sem poder mentir nunca por causa do nariz. (…) Em plena Revolução Francesa, por exemplo, quando se fez a reforma da instituição pública, em 1801, as autoridades recensearam todas as crianças de idades compreendidas entre os sete e os onze anos para terem uma ideia acerca do número de escolas que era necessário construírem. As contas foram feitas ignorando a metade feminina da população! E em meados do século, quinze mil comunas francesas ainda não dispunham de escola primária. (SANTOS, 2012) Nessa época, na Europa, a maioria das crianças não era alfabetizada, pois se levava em consideração que o preparo para o trabalho rústico e fabril, apenas o ensino oral ministrado pelos párocos, aos domingos, do catecismo após as missas, era suficiente. Ribeiro Sanches deixara escrito nas suas “Cartas sobre a educação da mocidade ‘que a instrução generalizada não tinha qualquer vantagem e só contribuía para desviar as pessoas dos seus ofícios manuais’”. Então, cabe-nos investigar para quem escreviam os magníficos escritores da época? A resposta é simples e objetiva: escreviam para uma minoria privilegiada, pequenos burgueses e aristocratas, que tinham acesso aos livros, pois: “Se se quiser falar ao coração dos homens, há que se contar uma história. Dessas onde não faltem animais, ou deuses e muita fantasia. Porque é assim – suave e docemente que se despertam consciências.” Jean de La Fontaine, século XVII No século XIX os escritores produziam por impulso criador, carregados de intensão educativa, embora cada pessoa pudesse imaginar o seu universo interpretativo a partir de suas experiências. Entretanto, os leitores faziam parte de uma elite feliz e restrita. 4.3 HANS CHRISTIAN ANDERSEN E SOFIA-CONDESSA DE SÉGUR: ÍCONES QUANTO AUTORES DA LITERATURA INFANTIL Os escritores do século XIX produziram as suas obras por um impulso criador, com uma intenção educativa e para uma determinada assistência, embora cada um pudesse imaginar o universo infantil de acordo com as suas experiências pessoais, não há dúvida, que os leitores faziam parte de um grupo restrito: os “socialmente felizes “. C. Andersen (1805 a 1875) e a Condessa de Segur (1799 a 1874) representam nessa época, duas vertentes da literatura infantil: uma, ‘sobretudo literária’ e outra ‘sobretudo para crianças’. Curiosamente, eles têm muito em comum. Ambos demonstram uma notável capacidade de comunicação com os mais novos e usam essa capacidade para rechearem seus livros de intenções educativas. Ambos retratam universos que conhecem bem, mas assumem posturas atitudinais diferentes. O primeiro pertencia a um universo paupérrimo e supersticioso. Menino de infância triste e carente, o pai morreu cedo, mãe alcoólatra, irmã prostituta. Aos catorze anos partiu para Copenhagen em busca do futuro cheio de glória que lhe profetizara uma bruxa. Não se enganou a mulher! No entanto o percurso foi longo, lento, difícil. C. Andersen passou fome e sujeitou-se aos trabalhos mais variados e mesquinhos até que a roda da fortuna virou graças a um protetor altamente colocado. Os biógrafos que se ocuparam de Andersen chamam sempre a atenção para o fato de ele ter mantido a maior simpatia e carinho pelos desgraçados e oprimidos, apesar do sucesso. Na verdade é sobre esses que escreve. Dificilmente se encontraria alguém mais pobre do que A Menina dos Fósforos, mais triste do que a Sereiazinha, mais desafortunado que O Soldadinho de Chumbo .Mas não é para os infelizes que escreve! Se o fizesse, um homem bom e sensível como era, não resistiria a inventar outras histórias. Quem se lembraria de entreter pequenos mendigos levando-lhes personagens cujo destino e morrer de frio e de fome? ( SANTOS, 2012) O autor quis chamar a atenção em seus livros, das crianças felizes para os problemas sociais da época e usa de sua história de vida com deleite e prazer, página após página, sempre falando de si e da criança que foi, de forma comovente, simples e cristalina, proseando com o leitor. Nos escritos da Condessa de Seguir, dá-se exatamente o contrário. Embora encontremos em escritos seus, caso de ‘Desastres de Sofia’, relatos autobiográficos, a escritora esquece-se de si, e escreve para distrair as crianças. As suas narrativas são sempre ligeiras. Mesmo quando trata de assuntos sérios o peso da alegria é maior que o da tristeza. E de uma maneira geral tudo acaba bem. O corcundinha cura-se. O capitão de Rosbourg regressa são e salvo do naufrágio… No entanto a vida da Condessa de Segur, ao contrário do que aconteceu a C.Andersen, não foi uma grande aventura com final feliz. (…)A Condessa de Segur fala do mundo que conhece. A maior parte das suas personagens vive em palácios, tem criados e carruagens, passa o Verão no campo e o Inverno em Paris. Entre a aristocracia, entre aqueles que os servem há problemas diversos de saúde, de falta de carinho, de solidão e morte. Mas ao sofrimento a escritora contrapõe constantemente cenas cómicas, alegres e dá às suas histórias um desfecho que deixa o público dormir descansado. (SANTOS, 2012) C.Andersen dirige-se às crianças, mas não se esquece de si. A Condessa de Segur esquece-se de si sempre que é necessário para agradar as crianças. Esse fato fez com que o primeiro autor nunca tenha sido alvo de críticas, pois sua obra foi mais lida por adultos, enquanto que o segundo foi lido por milhares de crianças, e sua obra tornou-se polemica e alvo de discussões acaloradas entre os que são contra ou a favor de sua forma de escrita. Entretanto as crianças, não se dão a esse trabalho, e deleitam-se a ler o que lhes permitem e agrada e a por de lado o que lhes desagrada, e continuam durante mais de cem anos a viajarem em carruagens e passearem por palácios cheios de criados, apesar de este mundo esta se indo e tornando-se cada vez mais distante. Esses exemplos nos mostram como a literatura infantil influencia na formação do sujeito aprendente e leitor. As estórias infantis são em sua maioria carregadas de informações cotidianas, de informações de outros lugares, ambientes, cidades, povos, outras maneiras de viver. Todas essas informações aguçam a curiosidade da criança e jovens, a exceção dos contos tradicionais que não só não surgiram para entreter crianças como ocupam um lugar à parte que não cabe aqui tratar, cada história é um espelho do momento em que surgiu. O mundo evolui, e a estórias infantis não têm outra opção senão a de evoluir também. Voluntário ou involuntariamente, cada autor acaba por fazer valer valores ideológicos, modos de vida, formas de se relacionar com a educação e a infância. Essas idiossincrasias transparecem por vezes até mesmo nos títulos de livros ou coleções. Quem se atreveria hoje a chamar a uma coleção ‘Biblioteca das Raparigas’, complementar de outra, a ‘Biblioteca dos Rapazes’? Nos anos quarenta, no entanto, era legitimo e correto e correspondia a ideia que se tinha do que era educar. Recuando até ao final do século XIX, vamos encontrar uma série de obras cujo título trás uma mensagem inequívoca e subjacente: em 1882, Maria Amália Vaz de Carvalho publica os “Contos para os Nossos Filhos “.Em 1897,Ana de Castro e Osório dirige uma coleção chamada “Para os Nossos Filhos “. E em 1907, Virginia de Castro e Almeida é responsável pela Biblioteca ‘Para os Meus Filhos’. Logo a seguir, autoras portuguesas passam a produção de obras literárias e assiná-las, mas têm o cuidado de lembrar-se que, embora possuidoras de enorme talento, escreviam para crianças, não se distraíram da missão principal, escreveram para os filhos. Assim, fica evidente o quão a literatura infantil influenciou nas mudanças de características da educação disponibilizada nos primeiros anos de escola. As crianças passaram a ter à sua disposição um rico acervo de contos infantis recheados de informações nunca dantes disponíveis. Essas informações por vezes, passaram a subsidiar as discussões com os mestres, e a evolução infantil, a evolução do entendimento infantil com relação aos problemas do mundo, leva a surgir um novo sujeito, um sujeito mirim, mas inteirado dos acontecimentos à sua volta e em seu mundo. 4.4 O HOMEM QUE PROFETIZOU A EVOLUÇÃO TECNOLOGICA EM LIVROS DESTINADOS A JOVENS E CRIANÇAS... E ADULTOS. Na data de 08 de fevereiro de 1828, nasce em Nantes, na França Jules Gabriel Verne Allotte, que viria mais tarde, seguindo os passos do pai Pierry Verne, a tornar-se escritor e adotar o nome de Júlio Verne. Foi um dos primeiros escritores a praticar uma literatura na linha da moderna ficção científica. Verne previu, entre outros inúmeros inventos, a televisão; o helicóptero; o cinema falado; a iluminação a néon; o ar condicionado; os arranha-céus; os mísseis teleguiados; os tanques de guerra; os veículos anfíbios; o avião; a caça submarina; o aproveitamento da luz e da água do mar para gerar energia; o uso de gases como armas químicas. Júlio Verne escreveu obras de aventura e ficção científica que influenciaram gerações como "Cinco Semanas em um Balão" (1863), "Viagem ao Centro da Terra" (1864), "Da Terra à Lua" (1865), "Vinte Mil Léguas Submarinas" (1869) e "A volta Ao mundo em 80 dias” (1872). Foi influenciado por Jonathan Swift, com seu livro "Viagens de Gulliver", por Daniel Defoe e seu "Robinson Crusoé". Júlio Verne sabia captar o que agradava aos leitores de todas as idades, conseguindo mantê-los atentos e curiosos. Sua atualidade ainda se mantém, assim como sua popularidade. Seus livros figuram entre as obras mais conhecidas e apreciadas do mundo. Verne não viajou muito, fez apenas algumas curtas viagens no seu iate Saint-Michel, uma viagem de navio aos Estados Unidos e rápidas visitas à Inglaterra, à Escócia e a outras localidades; contudo percorreu o mundo em seus livros, da África ao Polo Norte, do centro da terra ao espaço sideral. Sua obra influenciou o pensamento de jovens e crianças em todo o mundo, e esses sujeitos infantis, passaram a vislumbrar um mundo possível de ser idealizado, construído, um mundo que deixaria de ser utópico para tornar-se realidade. Hoje, vivemos em um mundo sonhado por nossos antepassados, mas já vislumbrado por vários estudiosos de várias épocas. Sanches bem evidencia essa importância no educativo quando escreve: “S. Majestade, que Deus guarde com alta providência, considera que lhe são necessários Capitães para a defensa; conselheiros doutos e experimentados; Como também Juízes, Justiças e administradores das rendas Reais; e mais que tudo na situação em que está hoje a Europa, embaixadores e ministros públicos, que conservem a harmonia de que necessitam aos seus Estados; esta educação não seria completa se ficasse somente dedicada à mocidade Nobre; Sua Majestade tendo ordenado as Escolas Públicas, nas cabeças das comarcas, quer que nelas se instruam aqueles que hão de serem mercadores, diretores das fábricas, arquitetos de mar e terra, e que se instruam artes e ciências.” Ribeiro Sanches – Cartas sobre a educação da mocidade – p.6 disponível em: http://www.estudosjudaicos.ubi.pt/rsanches_obras/cartas_educacao_mocidade.pdf acessado: 07/08/2012 as 22.20h. Coincidentemente, a evolução tecnológica e cientifica no mundo, toma outros rumos e conotações após a valorização dada à criança no contexto social e econômico das sociedades modernas. O reflexo dessa evolução pode ser mais bem estudado e observado, meio século (meados do século XX) após o início dessa valorização, tempo em que muitas dessas crianças, já avós, passam a educar seus filhos com uma visão de mundo, de liberdade, de necessidades educacionais, muito mais desenvolvidas que a dos seus avós. Tempos em que o trem e o barco a vapor já se tornam obsoletos, e as máquinas a combustão já dominam o cenário desenvolvimentista. 5. A NECESSIDADE DO PROFISSIONAL PSICOPEDAGOGO As crianças do nosso tempo imaginam-se nas estrelas, em outros mundos, e não acreditam que “Deus fez do homem sua imagem e semelhança...” (Bíblia) e o colocou na terra tornando-o supremo e superior a todas as coisas. Nossos jovens já entendem que fazem parte da natureza como seres interagentes e participantes integrantes de um processo harmonioso e complexo, evolutivo, gnosiológico, e que nosso planeta, nosso lar, é apenas um ‘grão de areia’ nesse imenso universo. Nossas crianças sonham com viagens espaciais, como cruzeiros, onde os seres humanos vão gozar suas férias, visitar seus parentes que trabalham e residem em estações espaciais ou em colônias colocadas em outros planetas que possibilitem a ocupação humana. Essa realidade utópica não está longe de acontecer. Acompanhamos nos noticiários que as nações desenvolvidas investem em pesquisas, enviam robôs ao espaço e a outros planetas procurando desvendar os mistérios do universo. A realidade é que nossos cientistas já vislumbram o esgotamento dos víveres em nossa casa ‘Gaia’ (na mitologia grega, a terra, nossa mãe e nosso lar), em um espaço de tempo não tão longo. A retirada de elementos essenciais a nossa subsistência do ecossistema do planeta tem aumentado vigorosamente, e, a natureza precisa do seu tempo para propiciar a regeneração e reconstrução dos bens naturais. Assim, já bombardeiam nos meios televisivos desenhos animados que reforçam nos jovens e crianças a ideia de pertencimento a um mundo maior e ilimitado. Os heróis, não são mais como ‘Rim-Tim-Tim’ nem ‘Tarzan’, ou ‘Jin das Selvas’, ‘Zorro’ ou ‘Tex Willer’, companheiros dos animais e os vilãos, agora são seres interplanetários e em nossa defesa surge a ‘Liga da Justiça’, o ‘Lanterna Verde’, ‘Aquaman’, os ‘Pawer Hangers’. O mundo juvenil e nosso, hoje, é o retrato do mundo vislumbrado por Verne. É arte pura. Vivemos no mundo da arte, arte das ruas, arte do gueto, da cultura popular, dos grandes gênios que, conseguiram através da sua arte influenciar gerações e gerações, propiciando assim interferência nos processos evolutivos dos seres humanos como sujeitos interagentes e propiciadores de subsídios de conhecimentos que fomentaram mudanças e evolução. Os grandes mestres quer na literatura, pintura, arquitetura, urbanística, etc., influenciam os processos de desenvolvimento das sociedades, e assim, interferem diretamente no evolutivo humano. Exemplo disso pode-se citar o cinema, hoje, vários filmes vislumbram um diferenciado futuro próximo, e exemplificam a importância de nos preocupar-nos com os desmandos com nossa mãe ‘Gaia’ com relação ao processo de degeneração do nosso ecossistema. Quem assistiu ‘2019 o ano da extinção’; ‘Ice, um dia depois do amanhã’; ‘ Meteoro’; ‘2035 cidade do pesadelo’; ‘Esfera’; ‘Treze dias que abalaram o mundo’; ‘Impacto’; ‘O fim do mundo’; ‘2012’; ‘2012 o ano da profecia’; ‘The triangle’; etc., entre outros, são películas que tentam alertar a população mundial com relação às mudanças que estão ocorrendo em nosso planeta por causa da produção. É a ‘arte’ agindo como instrumento de conscientização dos povos com relação aos problemas ambientais. As gerações que se seguiram após a valorização do sujeito criança no final da idade média, tornaram-se visionários e fizeram dos sonhos de alguns, realidade para todos os humanos. Diante desses processos evolucionistas, nas relações das crianças com os problemas mundanos, surgem os problemas relacionados às dificuldades de aprendizagem. Problemáticas que até então somente aos adultos diziam respeito, fazem agora parte do processo de evolução e de interação dos pequenos com o universo a sua volta. As mídias cinematográficas, a TV, os livros infantis, etc., instigam a interpretação de ações que somente nos coletivos pedem acontecer. Problemas mais complexos, situações que exigem maior elaboração do racione para serem entendidas e decodificadas, exigem cada vez mais dos pequenos quando inseridos nas interações humanas, quer na escola, na família ou junto com os coleguinhas quando brincam. Acirram-se então problemas de ‘dificuldades de aprendizagem’, decorrentes dessas relações dos pequenos com o mundo a sua volta. Nem todas as crianças acompanham naturalmente essa evolução, e muitos precisam de interferência profissional, de ajuda profissional, para que passem a ter um desempenho satisfatório ao seu desenvolvimento diante da vida. Precisam de orientação profissional para que se insiram e interajam com novas formas de relacionamento com o mundo a sua volta. As informações hoje chegam às crianças como um bombardeio, em pacotes, e os pequenos têm que ter capacidade de decodificar e armazenar informações a velocidade cada vez maior. É exigido do celebro dos pequenos que o mesmo trabalhe a velocidades fantásticas quando processam essas informações, selecionando, interagindo, decodificando, armazenando, etc., e os processos neurais usados hoje pelos pequenos, são mais elaborados que os exigidos pelos adultos de 50 anos atrás. Diante dessa problemática, a importância da ação psicopedagógico é imprescindível, e a profissionalização desse sujeito, é um aclame da escola e das famílias. 5.1 AS CAUSAS DOS PROBLEMAS DE ‘DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM’ A mais antiga de todas as sociedades, e a única natural, é a da família. As crianças apenas permanecem ligadas ao pai o tempo necessário que dele necessitam para a sua conservação. Assim que cesse tal necessidade, dissolve-se o laço natural. As crianças, eximidas da obediência devida ao pai, o pai isento dos cuidados devidos aos filhos, reentram todos igualmente na independência. Se continuam a permanecer unidos, já não é naturalmente, mas voluntariamente, e a própria família apenas se mantém por convenção. Rousseau, 1762 Rousseau escreve ‘Do Contrato Social’ em 1762, e disserta sobre a característica humana de viver em sociedade. A modernidade trouxe novos modelos relacionais às concepções sociais, e isso não foi diferente com a relação familiar. A disponibilização informacional ocorrente na pós-modernidade, faz com que as crianças adquiram senso de independência cada vez, mas cedo, e assim, surgem os problemas decorrentes dessa relação criança/informação/independência. Há muitas vezes, interpretações errôneas por parte dos pequenos dos códigos que lhes são dispostos, e nem todos conseguem se relacionar com essa nova característica de interação com naturalidade, aparecendo então os conflitos sociais no seio da família. Entretanto, devemos também levar em consideração as novas características da família moderna. Pais que trabalham (Pai e mãe), e somente se relacionam com os filhos no fim de semana, quando o fazem. Saem para o trabalho pela manhã e deixam o filho na escola, ou com alguém que os cuide, ou ao contrário. O momento do carinho e do afeto desapareceu e as crianças se apegam mais aos jogos de computador, aos amigos virtuais, aos programas de TV, os que têm acesso, os que não têm, ficam vulneráveis. Sentem-se totalmente independentes, mas não felizes. Sentem falta de amor e atenção. O amor dispensado pela família é o amor de cuidador, de arrimo e provedor. É normal nos nossos dias, as crianças passarem, mas tempo com os educadores escolares que com os pais. Assim, em sala de aula, os professores se deparam com crianças que apresentam variados problemas relacionais, afetivos ou congênitos, que por vezes são agravados pela não atenção ou entendimento da família, ou pela falta de afeto (carinho) dos pais. Poucas são crianças que têm o privilégio dos pais lerem para si antes de dormir, ou contar-lhes uma história. Essa independência antecipada aproxima os pequenos do ‘Risco’, e podemos confirmar esse fato, visitando os CRAS – Centro de Referência da Assistência Social, na maioria dos municípios brasileiros. Nesses espaços, se encontram em faze de observação e acompanhamento, crianças e jovens que são atendidos pelos projetos ‘Pró-jovem infantil’ e ‘Pró-jovem adolescente’, crianças que deveriam isentar-se de conhecer as drogas lícitas e ilícitas, a prostituição infantil, a bandidagem, etc., mas conhecem, pois seus pais quando não estão ausentes por causa do trabalho, estão envoltos com o vício ou simplesmente, por descaso. Essa atenção dispensada pelo governo, ainda encontra um inimigo terrível, a corrupção, que propicia o desvio de verbas das secretarias de assistência social por parte dos gestores, que maquiam o que é disponibilizado nas instituições, e usa as verbas como melhor lhes convém. A ação do profissional psicopedagogo justifica-se por si só. Deve o psicopedagogo imbuir-se do papel de entender, propiciar e facilitar a interação das crianças e dos seus responsáveis com os processos educacionais, com a decodificação das mensagens e informações disponíveis nas relações sociais, envolvendo os atores em um processo relacional, mas afetuoso, procurando resgatar valores de amor perdidos, encurtando o distanciamento que existe nos nossos dias entre os responsáveis e os dependentes, para que estes se sintam, mas acolhidos, e tenham, mas colo. 5.2 A AÇÃO DO PSICOPEDAGOGO O ser humano desde muito cedo aprende a mamar, falar, andar, pensar, e muitos outros processos que garantem sua sobrevivência. Esses processos fazem parte da aprendizagem e da construção do conhecimento. Aos três anos aproximadamente as crianças já são capazes de construir hipóteses e já questionam a existência. No processo educativo, a aprendizagem escolar também é um processo natural, que resulta de uma complexa atividade mental, onde o pensamento e percepção, as emoções, a motricidade e todos os conhecimentos prévios estão envoltos onde a criança deva sentir prazer em aprender. Cabe a psicopedagogia o estudo do processo de aprendizagem humana e de suas dificuldades, levando em consideração realidades internas e externas, utilizando vários campos do conhecimento, integrando-os. O profissional psicopedagogo deve procurar entender e integrar os processos cognitivos, emocionais, orgânicos, familiares, sociais e pedagógicos que determinam a condição do sujeito interagir no processo de aprendizagem em sua totalidade e de maneira, mas prazerosa. Segundo Weiss (1999), “a aprendizagem normal dá-se de forma integrada no aluno (aprendente), no seu pensar, sentir, falar e agir. Quando começam a aparecer “dissociações de campo” e sabe-se que o sujeito não tem danos orgânicos, pode-se pensar que estão se instalando dificuldades na aprendizagem: algo vai mal no pensar, na sua expressão, no agir sobre o mundo”. Atualmente, a política educacional prioriza a educação para todos e a inclusão de alunos que, há pouco tempo, eram excluídos do sistema escolar, por portarem deficiências físicas ou cognitivas; porém, um grande número de alunos (crianças e adolescentes), que ao longo do tempo apresentaram dificuldades de aprendizagem e que estavam fadados ao fracasso escolar pôde frequentar as escolas e eram rotulados em geral, como alunos difíceis. Esses alunos, que apresentam dificuldades de aprendizagem sem origem neurológica, não podem ser considerados portadores de deficiência mental, oscilam no humor e conduta e nos processos simbólicos que dificultam a organização do pensamento, interferem na alfabetização e nos processos lógico-matemático, demonstram potencial cognitivo, e podem ser resgatados na sua aprendizagem. As dificuldades de aprendizagem não têm origem só cognitiva, e não se deve atribuir ao aluno o seu fracasso. Devem ser considerado se houve algum comprometimento no seu desenvolvimento psicomotor, cognitivo, linguístico ou emocional, desestruturação familiar e ainda as condições de aprendizagem que a instituição escola oferece a este aluno, entre outros fatores. As dificuldades de aprendizagem na escola podem ser consideradas uma das causas que podem conduzir o aluno ao fracasso escolar. Não podemos desconsiderar que o fracasso do aluno também pode ser entendido como um fracasso da escola por não saber lidar com a diversidade dos seus alunos. É preciso que o professor atente para as diferentes formas de ensinar, pois, há muitas maneiras de aprender. O professor deve ter consciência da importância de criar vínculos com os seus alunos através das atividades cotidianas, construindo e reconstruindo sempre novos vínculos, mais fortes e positivos. O aluno, ao perceber que apresenta dificuldades em sua aprendizagem, muitas vezes começa a apresentar desinteresse, desatenção, irresponsabilidade, agressividade, etc. A dificuldade acarreta sofrimentos e nenhum aluno apresenta baixo rendimento por vontade própria. Durante muitos anos os alunos foram penalizados, responsabilizados pelo fracasso, sofriam punições e críticas, mas, com o avanço da ciência, hoje não podemos nos limitar a acreditar, que as dificuldades de aprendizagem, seja uma questão de vontade do aluno ou do professor, é uma questão muito mais complexa, onde vários fatores podem interferir na vida escolar, tais como os problemas de relacionamento professor-aluno, as questões de metodologia de ensino e os conteúdos escolares. Se a dificuldade fosse apenas originada pelo aluno, por danos orgânicos ou somente da sua inteligência, para solucioná-lo não teríamos a necessidade de acionarmos a família, e se o problema estivesse apenas relacionado ao ambiente familiar, não haveria necessidade de recorremos ao aluno isoladamente. A relação professor/aluno torna o aluno capaz ou incapaz. Se o professor tratá-lo como incapaz, não será bem sucedido, não permitirá a sua aprendizagem e o seu desenvolvimento. Se o professor mostrar-se despreparado para lidar com o problema apresentado, mais chance terá de transferir suas dificuldades para o aluno. Os primeiros ensinantes são os pais, com eles aprendem-se as primeiras interações e ao longo do desenvolvimento, aperfeiçoa. Estas relações, já estão constituídas na criança, ao chegar à escola, que influenciará consideravelmente no poder de produção deste sujeito. É preciso uma dinâmica familiar saudável, uma relação positiva de cooperação, de alegria e motivação. Torna-se necessário orientar aluno, família e professor, para que juntos, possam buscar orientações para lidar com alunos/filhos, que apresentam dificuldades e/ou que fogem ao padrão, buscando a intervenção de um profissional especializado. Dicas para os pais: 1.Estabelecer uma relação de confiança e colaboração com a escola; 2.Escute mais e fale menos; 3.Informe aos professores sobre os progressos feitos em casa em áreas de interesse mútuo; 4.Estabelecer horários para estudar e realizar as tarefas de casa; 5.Sirva de exemplo, mostre seu interesse e entusiasmo pelos estudos; 6.Desenvolver estratégias de modelação, por exemplo, existe um problema para ser solucionado, pense em voz alta; 7.Aprenda com eles ao invés de só querer ensinar; 8.Valorize sempre o que o seu filho faz, mesmo que não tenha feito o que você pediu; 9.Disponibilizar materiais para auxiliar na aprendizagem; 10.É preciso conversar, informar e discutir com o seu filho sobre quaisquer observações e comentários emitidos sobre ele. Cada pessoa é uma. Uma vida é uma história de vida. É preciso saber o aluno que se tem, como ele aprende. Se ele construiu uma coisa, não pode-se destruí-la. O psicopedagogo ajuda a promover mudanças, intervindo diante das dificuldades que a escola nos coloca, trabalhando com os equilíbrios/desequilíbrios e resgatando o desejo de aprender. 6. REFERÊNCIAS: ARIÉS, P. História social da criança e da família. Trad. Dora Flaksman. 2.ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1981. FREIRE. P. Pedagogia da autonomia, 27 ed, São Paulo: Paz e Terra, 2003. SANCHES, Ribeiro– Cartas sobre a educação da mocidade – disponível em: http://www.estudosjudaicos.ubi.pt/rsanches_obras/cartas_educacao_mocidade.pdf acessado: 07/08/2012 as 22.20h. SANTOS, CINTIA MARIA BASSO e SANTOS, JOSÉ REUS DOS. Escola Emocional - Revista Réfyra, São Miguel do Iguaçu, v. 1, n. 1, jan./jun. 2012. VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989 WEISS, MARIA LÚCIA. A Informática e os Problemas Escolares de Aprendizagem. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.