No começo do ano letivo, apresentei ao Colégio Luiz Eduardo Magalhães, o projeto do “Tira Dúvidas”, que tratava do desenvolvimento de aulas de reforço em Física, Matemática e Química, aos sábados à tarde, aos alunos do EJA- Educação de Jovens e Adultos, que cursam o ultimo ano do ensino médio. Aceito o projeto, e com o desenvolvimento das aulas, fomos convidados a substituir também os professores que faltassem durante a semana, e passei a ministrar aulas de física na escola, a noite, aos mesmos alunos que faziam parte do projeto. Com o decorrer das aulas, passei a observação de processos cognitivos do ensino-aprendizagem, tendo em vista o baixíssimo rendimento dos alunos e o alto grau de dificuldade em relação ao entendimento de assuntos simples, que deveriam ser já dominados pelos alunos para que passássemos ao desenvolvimento de exercícios de dificuldade mediana, que fazem parte do currículo das matérias proposto para o terceiro ano.
Tivemos que retroceder nos assuntos, e passamos ao ensino do básico dessas matérias, para que fosse propiciado o entendimento mínimo dos exercícios propostos em sala, e para minha surpresa, passaram os alunos a acompanharam com mais desenvoltura e facilidade os exercícios e o avanço foi evidente, e evidenciou-se não tratar-se de desinteresse do corpo discente o baixo aproveitamento. Passei então a pesquisa em busca das razões que propiciavam esse baixo aproveitamento, e entendi tratar-se de desinteresse do corpo docente em tornar as aulas interativas e interessantes, os moldes do ensinamento da matéria física, por exemplo, estão centrados em métodos antigos, e não despertam a curiosidade e interesse dos alunos em entenderem como se chega a uma conclusão. Em conversa com um aluno, o mesmo contou que o professor da matéria comentara com os mesmos que: “Vocês só estão aqui pra terminar o segundo grau, pois só estão atrás de um diploma”. É estarrecedor como a falta de discernimento de alguns docentes propiciam o desinteresse dos alunos e plantem o comodismo, passam desiludir e quebrar sonhos possíveis, como se sentissem prazer em quebrar os encantos e isso os deixam menos responsáveis e mascaram o fracasso dos mesmos como educadores. Métodos também se tornam arcaicos. A velocidade como as tecnologias tomam posse do âmbito educativo, faz-se extremamente necessária a atualização constante dos professores em relação ao método de ensino. O assunto é o mesmo, a forma como ele é posto, não. Todos têm acesso a métodos cognitivos de desenvolvimento, e espera-se isso também em sala de aula, e se espera isso do professor. Como se explicar aos olhos do leigo a desinformação dos educadores?...Espera-se, quando se adentra a uma sala da aula para se ser instruído, que aí se encontre o melhor e o que há de mais moderno em matéria de educação, e isso muitos educadores ainda não entenderam.
Quando passei a trazer uma metodologia diferente de ensino, onde todos participavam, e foram buscar na internet novidades educativas, o interesse dos alunos foi tamanho que, como os horários são duas aulas seqüentes, não percebíamos o termino das mesmas, e alunos que eram dispersos, ou que saiam da sala quando a aula começava, passaram a ser os maiores participantes, e por vezes, concluíamos as duas aulas com sala completa e entravamos no intervalo maior e não percebíamos, e quando percebíamos ainda ficávamos até o término do exercício que estávamos a executar.
“Quando jovem, não me recordo de estudar física assim, decorávamos as matérias e formulas, e não sabíamos para que servisse aquele aprendizado, não conseguíamos fazer a relação com a vida, nem com a preposição a que se destinava tal aprendizado”. Para desenvolver as aulas pesquisei e estudei muito, principalmente no site www.sofisica.com.br, onde tive a felicidade de entender novas formas de ensino e formas mais interativas de tornar a aula mais interessante, passando a despertar o interesse dos jovens. Passei a dar aulas sempre com a sala cheia, e isso causou uma atitude inesperada aos olhos dos professores, enquanto o diretor elogiava a forma como eram conduzidas as aulas, senti cada vez mais no corpo docente um aumento do distanciamento, e uma certa frieza no trato. Certa feita o líder da sala 3, entrou na sala dos professores e se derramou em elogios a aula que acabara de ministrar, e aí , deixou claro a intenção dos alunos de assinarem uma relação onde preiteavam que eu substituísse o professor da matéria em definitivo, e foi um vexame. No dia seguinte, nenhum dos professores olhava para mim, e fiquei incomodado, não comigo, gosto de desafios, mas com o que pudesse advir de tal situação, e me afastai das aulas. Ainda não é tempo de comprar essa briga, mas ficou evidente que a maior causa de desinteresse na escola, está na falta de boa vontade de muitos educadores em reeducar-se. O governo tem feito sua parte dentro do possível, disponibilizando cursos de extensão e capacitação, e muitas vezes não se conseguem formar turmas devido o desinteresse dos docentes em reeducarem-se. Tenho tentado passar aos colegas que esses cursos de capacitação, deveriam acontecer dentro da escola e dentro dos horários de atuação dos docentes, para que passem a ser exigidos e tornem-se presenciais. Interação e conectividade com as TICs não se aprende no bar da esquina, e sim no contato direto e com instrutores capacitados, contando ainda com o interesse de quem aprende, que é o ponto referencial para que aconteça a produção do conhecimento. Gostaria que esses educadores tivessem a oportunidade de dar aula com uma sala cheia, e sentir que os alunos não querem sair antes de terminarem suas tarefas ou de entenderem o que está proposto, o coração da gente se enche de orgulho, e sentimos a satisfação de estar fazendo algo bom. O que não entendo, é que senti essa satisfação e estava dando aulas gratuitas, sem remuneração, apenas como objeto da minha pesquisa, como podem os professores não sentirem prazer em ensinar?...Se ganha pouco, é estafante, tem-se muita dificuldade... Más o prazer em se ver uma sala toda voltada a procurar entender o que se propõe, e você sendo o mediador dessa interação, não tem remuneração que pague.
Acho que não serei professor, tenho direcionado meus estudos pedagógicos à pesquisa no âmbito educativo, mas isso não tira o encanto de saber o que senti, ao ver nos olhos dos alunos o interesse coletivo em resolver problemas de Movimento Retilíneo Uniformemente Variado, e elogiarem a si mesmos quando chegam ao resultado e entenderam as preposições das resoluções. Fiquei orgulhoso de mim. A gente sente que é possível se fazer alguma coisa para se mudar o social e o caos que se vive, e que não se conseguirá isso se não por educação. Sinto hoje que muitos jovens estão abertos ao entendimento e estudo, só que temos que nos tornar interessantes, e fazer-mos com que os assuntos também se tornem interessantes, para que mos atraias a atenção e admiração dos jovens, e que esses passem a sentir a verdadeira necessidade que se tem hoje no quadro caótico que se encontra a sociedade em bem educarem-se, e cooperarem para a mudança que tanto se anseia.