domingo, 28 de setembro de 2008

EDUCAR...UM ATO DE AMOR.

EDUCAR...UM ATO DE AMOR.


Tinha que entender o processo cognitivo e relações existentes entre docentes e discentes, bem como a problemática com relação à evasão crescente que ocorre nos espaços destinados aos procedimentos educacionais. Passei então à elaboração do Projeto “Tira Dúvidas”, o qual, após a apresentação do mesmo a Escola Estadual Luiz Viana Filho, nesta cidade, e sendo o projeto apreciado e aprovado pela diretoria da escola, organizei e passei juntamente com dois outros colegas a ministrar aulas de química, física e matemática, onde discorríamos sobre os assuntos dados durante a semana pelos professores das referidas matérias, e passávamos, sempre aos sábados à tarde, a efetuação dos exercícios que eventualmente deixavam dúvidas.
Percebi então que a maioria dos alunos não tinha a mínima noção do que se discutia em sala, e menos noção ainda, do entendimento da matéria. Esse fato, segundo minhas observações, esta diretamente ligado à dispersão dos alunos, e passei a perceber que os mesmos deixavam a sala durante as aulas não por negligência com os estudos, e sim, por não compreenderem o que se propunha ao entendimento, nem as resoluções dos problemas correlativos quando da solução das preposições. Causou-me estranheza o fato de, o que no inicio pareceu uma grande idéia, como fora a implantação do “Tira Dúvidas”, tenha tido tão pouca adesão dos alunos. Aconteceu então que, devido a necessidade de ausência do professor da matéria, fui convidado a substituir o mesmo e passei a ministrar aulas de Física, durante a semana, aos alunos do EJA- Educação de Jovens e Adultos, do ultimo período. Percebi então que 42 de 49 alunos da sala 1-A, 3º ano, não entendiam operações com sinais, operações com números fracionários, raiz quadrada, etc., que são noções básicas da matemática, para que se passe ao desenvolvimento de problemas básicos de Física, tendo em vista que estudávamos Movimento Retilíneo Uniforme e Movimento Retilíneo Uniformemente Variado.
Após a constatação do fato, decidimos iniciar um processo de recuperação da matéria, onde passamos a ministrar aulas básicas correlativas ao entendimento e resoluções de problemas iniciais com a matemática, e para nossa surpresa e prazer, passamos a viver o verso do processo que se iniciara, passamos a ver o fim da dispersão, passamos a conhecer alunos que até então não haviam comparecido à aula. Alunos que não compreendiam os exercícios de Física, conseguiram por fim resolve-los, e para minha grata felicidade, passamos adiante na matéria, e propiciou-se a discussão da problemática criada com o pouco que conseguiram entender, queriam mais e discutiam mais, perguntavam mais, produziram mais. As aulas de Física são ministradas em dois horários seqüentes, com intervalo de 10 minutos entre elas, o que passou por várias vezes despercebido, e entrava-mos no intervalo maior, sem que nenhum aluno deixasse a sala de aula, e por vezes os alunos da outra sala vinham à porta chamar-me para que passasse-mos a aula do outro grupo.
Os parágrafos anteriores, reservei-me ao relato da experiência vivida com os alunos do EJA do Colégio Luiz Viana Filho, em seguida, passo ao relato das observações feitas durante as aulas, que perduraram no período de 03 de março a 05 de junho de 2008.
Fica evidente a falta de interesse do professor em propiciar o conhecimento aos alunos, pois não se pode acreditar que, o que tenha sido por mim percebido, quanto aluno ainda de Pedagogia, não seja percebido por professor do Estado. Em entrevista realizada com alguns alunos, foi declarado pelos mesmos que por vezes o professor dissera em sala, da incompetência dos alunos do EJA, e que os mesmos apenas ali estavam para a aquisição de um diploma de nível médio. Por várias vezes também, foi dito pelo professor, e fica explicitado aqui, que a afirmação não foi proferida apenas pelo professor de Física, que os mesmos (alunos do EJA) não têm a menos chance no vestibular e que podem se dar por felizes em concluir ensino médio. Declaro desde já o meu repudio a esse tipo de declaração ou forma de educar, e lembro que fui aluno do CPA – Comissão Permanente de Avaliação, da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, que é uma avaliação supletiva, onde o aluno estuda em casa e apenas comparece à escola para a realização das provas avaliativas, e hoje estou no Terceiro Semestre do Curso de Pedagogia 2007.1, No Campus XVI, da Universidade do Estado da Bahia. Atitudes como essas causam:
- Descontentamento nos discentes;
- Desalento;
- Descrédito;
- Desconfiança;
Nasce no estudante um grande sentimento de incompetência no aprender, e o mesmo passa a indagação quanto a verdadeira importância da matéria com relação à sua aplicabilidade. Foi por mim percebido também a existência de alunos que nada querem, e que por vezes, passam a tentativa de deturpação da aula, com brincadeira sem nexo, sem lenço e sem documento, mas que segundo minhas observações, se a interatividade estiver propiciando o conhecimento e despertando o interesse dos discentes, os mesmos resolvem o problema e por vezes, não se faz necessária a intervenção do professor, e que nas aulas subseqüentes, esses alunos problemas passam a participação ativa e efetiva, pois têm potencial de absorção da matéria bem como entendimento, superior àqueles que esforçam-se mais, o que evidencia ainda mais que a aula de má qualidade leva esses alunos a dispersão e à tentativa de bagunçar o ambiente educativo, por acharem que o professor é incompetente e que não sabe ensinar.
Lembro do tempo em que esquentava os bancos escolares, e quão grande é a diferença da atitude do professor de hoje se comparada à atitude do professor de outrora. Sempre existiram alunos relapsos e problemáticos, mas os professores tinham autoridade e impunham-se. É conflitante discutir-se imposição nos nossos dias, principalmente no âmbito educativo, mas é o que existe também nos dias de hoje. Os alunos das escolas particulares têm um melhor desempenho devido a consciência que é construída nos mesmos de forma impositiva, pelos pais, pela escola, pela sociedade, e isso deixa de ser visto como imposição porque eles aceitam com naturalidade, porque é construído nesses alunos a responsabilidade do investimento e a correlação com a perca do mesmo. Há um descaso do professor com o aluno do ensino supletivo, pois entende-se que esse aluno foi o aluno que no passado não quis nada com a escola, ou que tenha sido um aluno problema, e que a necessidade do certificado, pela imposição do emprego é que o tenha levado hoje à escola, o que é um erro. Em entrevistas com os alunos do EJA pude constatar que a maioria deles, não concluíram os estudos devido a inacessibilidade ou devido a urgência em trabalhar. Atitudes governamentais hoje, propiciam aos jovens maiores possibilidade com relação a essa acessibilidade educativa, não se alcançou ainda o ideal, mas em muito se melhorou as condições e se facilitou o acesso as escolas e universidades. Na minha juventude apenas os filhos dos senhores ricos (fortes comerciantes, doutores, latifundiários,etc.) é que conseguiam acessar o ensino superior. Lembro que meu amigo de infância Jeová (Vavazinho), que pelos sonhos dos seus pais tinha que aprender um oficio (profissão), foi por sua família enviado para estudar em Jequitibá, uma escola Católica que existia ou existe ainda no interior da Bahia, e nos vimos por mais duas ou três vezes ainda, e perdemos o contato. O professorado da minha infância tinha um sentimento maior de compromisso com os alunos, com a formação dos mesmos, sonhavam em ver um aluno que tivesse passado por sua mão acessar o ensino superior. Há pouco, antes de fazer o CPA, tive que efetuar uma pesquisa para levantar os dados de minha passagem pela Escola Paroquial na década de 70, e somente fui conseguir localiza-los quando já havia sido aprovado no vestibular, quando em contato com os professores que localizei em Capim Grosso – BA, a professora Valdetina chorou quando soube de minha aprovação, e me falou que nunca é tarde (referindo-se a minha idade) para que se consiga acesso ao ensino superior, e falou de como realizara seu sonho, e de quanto ficava feliz sempre que tomava conhecimento de que um aluno seu conseguira acessar o ensino superior. O conflitante, é que Ela nunca ganhou um bom salário, nunca teve condições de desenvolver um bom trabalho se pensar-mos nas condições de ensino que eram colocadas aos docentes na época.
Estudamos e aprendemos que educar é um ato amoroso, entendemos a necessidade avaliativa no acompanhamento do desenvolvimento do aluno (Lukcesi, Cipriano – 1999), a avaliação da aprendizagem se torna importante quando o docente tem consciência de formar o sujeito, crítico, técnico e necessário à continuidade do propiciamento adequado no processo de qualificação de cidadãos ciosos dos seus direitos e deveres, entendedores que, o seu direito termina onde começa o do outro e vice-versa. È importante educar-se com seriedade e destreza, com o cuidado em formar sujeitos que preocupados com o bem estar de sua prole, para que não mais aumentem os índices de criminalidade que assolam o país. Criar com cuidado os filhos, em detrimento da classe social ou berço, educar para a vida, é preparar o cidadão que sabe amar o próximo, o cidadão que vê a miséria e preocupa-se com a falta de oportunidade que a humanidade tanto anseia. Países que foram destruídos após a segunda grande guerra, foram reconstruídos com investimentos maciços em educação, em processos que duraram por não menos que duas décadas, e hoje esses mesmos países são detentores de grande desenvolvimento, e propiciam ótima qualidade de vida a suas populações ( Japão, Itália, República Checa, Iugoslávia, Alemanha, etc.) com baixos índices de criminalidade, boa educação, boa qualidade de vida, e isso evidencia que, a melhor forma de propiciar melhoras a um povo é educando esse povo. Já existe hoje em nosso País, uma forte corrente de teóricos, sociólogos, políticos, estudantes, e cidadãos que exercem atividades das mais variadas, que acreditam nisso, e defendem a implementação do Educacionismo na nossa federação, como única forma de acelerar e efetivamente levar o nosso povo ao livre exercício da cidadania, onde se defende escolas igualitárias com os mesmos propiciamentos a ricos e pobres. Há ainda muita desconfiança em torno da proposta, pois a mesma partiu da ideologia do Senador da República, Cristóvão Buarque, e muitos vêm nessa atitude, uma forma de autopromoção, pois é da sapiência de todos que o mesmo Senador tenciona e almeja a Presidência da República. O que devemos pensar é: Não foi isso feito nos países que foram destruídos pela guerra?... Não foram tão radicais à termo de formarem escolas igualitárias, mas tiveram a coragem de investir fortemente em educação, e assumir que essa seria a melhor forma de reconstrução dos seus países, educando seu povo e ensinando-os a trabalhar com seriedade e consciência, participando assim efetivamente da reconstrução de pátrias semi-destruídas.
SOARES.