domingo, 8 de março de 2009

A QUEM PERTENCE E A QUE SE DESTINA A UNIVERSIDADE PÚBLICA.

Esse texto tem o objetivo de fomentar a discussão sobre sentimentos pertinentes e impertinentes, que assolam e deturpam as interpretações de jovens e famílias, quando vêm a possibilidade do acesso ao ensino superior por seus membros, através do acesso à escola de ensino superior, pública.

Vejamos: entendamos que “escola pública”, é construída, mantida, e funciona em todas as suas instâncias, com verba que advém do pagamento dos impostos pela sociedade. Então, quando uma família, por competência de um de seus membros, é agraciada com o contato com a universidade pública, por um de seus membros, espera essa família que nesse espaço educativo, se encontre o que há de melhor em educabilidade, e que se aflorem sonhos e possibilidades antes inacessíveis. Não é o que ocorre.

Ao manter o primeiro contato com a universidade, o educando fica embriagado e em êxtase com a possibilidade. Passa a tomar posse e contato, bem como à produção de conhecimentos novos, que o encanta, e afloram possibilidades de fazer pelo social, pela escola de ensino fundamental e médio, e o educando passa a sentir-se útil e a valorizar o entendimento e possibilidade pelo educativo. Entende esse aluno que está sendo preparado para educar, que deve estar trilhando o que de melhor se conhece das questões educacionais, e que em breve poderá dar seu quinhão de contribuição a todos os alunos que estão nas escolas e esperam e sonham com a possibilidade de acessar ao ensino superior, e não há como se desvincular esse acesso, do sonho do propiciamento de uma vida mais condigna.

Não entendo então o que ocorre na escola de ensino superior. Ministra-se um curso de Pedagogia, a alunos que, em sua maioria, não estão imbuídos da necessidade do educativo em formar educadores de qualidade e cientes das necessidades das escolas de ensino fundamental e médio, de profissionais da educação. Professores visionários que pensem em formar um país melhor, que entendam que alicerçar uma educação de qualidade, é alimentar o sonho social de melhoria da qualidade de vida da população de um país ( no caso, o nosso). O Economista e especialista em educação, Erich Hanushek, em seus atuais estudos comprova que:
Existe uma forte relação entre educação e crescimento econômico. Com o Brasil nas últimas colocações em rankings internacionais de ensino, o que se pode dizer sobre a economia? Com esse desempenho, as chances de o Brasil crescer em ritmo chinês e se tornar mais competitivo no cenário internacional são mínimas. Digo isso baseado nos números que reuni ao longo das últimas décadas. Eles mostram que avanços na sala de aula têm peso decisivo para a evolução dos indicadores econômicos de um país. Olhe o caso brasileiro. Se as notas dos estudantes subissem apenas 15% nas avaliações, o Brasil somaria, a cada ano, meio ponto porcentual às suas taxas de crescimento. Isso significaria, hoje, avançar em um ritmo 10% maior. Vale observar que o que impulsiona a economia é a qualidade da educação, e não a quantidade de alunos na escola.(Revista VEJA)
Em seu estudo, o economista e especialista em educação, conseguiu comprovar que a educação de qualidade consegue melhorar significativamente a qualidade de vida das comunidades e sociedades. Hoje vemos que a Coréia do Sul e Finlândia, conseguem promover evolução extraordinária na qualidade de vida de seu povo, em todos os níveis, e conseguem índices de crescimento invejáveis, e isso vem acontecendo ultimamente com a China. E continua:

"Com o baixo nível apresentado pelos alunos brasileiros hoje,as chances de a economia deslanchar são mínimas"
Segundo Hanushek, a qualidade do ensino e aceitabilidade, a qualidade da educação de um povo esta ligado diretamente à melhoria dos índices de qualidade de vida e de desenvolvimento desses países.
A massificação do ensino, por si só, tem pouco efeito – e a matemática não deixa dúvida quanto a isso. Os dados mostram que a influência da educação passa a ser decisiva apenas quando ela é de bom nível. Aí, sim, consegue empurrar os indivíduos e a economia. A relação é simples. Países capazes de proporcionar bom ensino a muita gente ao mesmo tempo elevam rapidamente o padrão de sua força de trabalho. Quando uma população atinge alta capacidade de raciocínio e síntese, torna-se naturalmente mais produtiva e capaz de criar riquezas para o país. Nesse sentido, a posição do Brasil é desvantajosa. Faltam aos alunos habilidades cognitivas básicas, e isso funciona como um freio de mão para o crescimento. Esse cenário, que já era preocupante décadas atrás, agora é ainda mais nocivo.
O que fica incompreensível, são as relações alunos-educativo que acontecem na escola. As atitudes e direcionamentos, quando não para propiciarem oportunidades individuais, não são coerentes com os anseios sociais, que são as pessoas pagantes e que propiciam e oportunizam todo o processo. Muito pouco se tem de atitudes que prestigiem o desenvolvimento das inter-relações entre o corpo biológico da escola e o social. Sente-se que muitos têm potencial e aptidão para desenvolverem atividades correlatas, mas não vemos propiciar ou oportunizar atividades ou intenções que ascendam nesses discentes a chama do “amor ao educativo” tão difundido por Luckesi, nem ao ”o amor ao social e aos menos favorecidos, nos processos de letramento e de desenvolvimento” tão evidenciado por Freire. Perdem-se no meio de tantos desmotivados e outros tantos alienados, os visionários e os que têm aptidão nata. Alguns, são fisgados por grupos que são verdadeiros encantadores, e se deixam enredar por caminhos sem graça. Talvez, a própria falta de oportunidades vivida antes por esses alunos, os deixem vulneráveis, e os mesmos se encantam por promessas pequenas, salários pequenos, vidas pequenas. Cheguei a ouvir de um aluno que estava satisfeito com o salário que conseguira, e vi seu deslumbramento, senti que ali, que naquela pessoa o sentimento pedagógico perdera-se. A sociedade e o país, não mais pode esperar nada que propicie melhoria a seu povo que advenha desse discente. No futuro, talvez, esse aluno será professor de outros tantos na universidade e propiciará a alienação e entrave dos processos evolutivos, e aí outros tantos como eu, não entenderão a que se destina a UNIVERSIDADE.
Em outubro de 2008, em entrevista á revista ‘NOVA ESCOLA’, Fernando Haddad (Ministro da Educação), declara ser a formação docente, prioridade para o Ministério, e que é essencial que as universidades públicas preparem mais e melhores professores para o Ensino Fundamental.
“Dar aula não é nada simples, talvez seja a atividade mais sofisticada que a espécie humana já concebeu” (Fernando Haddad). Segundo o mesmo, o governo prioriza os cursos de Pedagogia, Medicina e Direito, na lista dos processos avaliativos nacionais das faculdades e universidades, e isso é uma tentativa de aprimoramento. “É preciso que as faculdades adaptem os currículos dos cursos de Pedagogia à realidade da sala de aula” (Haddad). Sinto que o governo está consciente da necessidade do propiciamento de formação de educadores preocupados com o alicerçamento educacional brasileiro. O que vejo é vir à evidência a fala do Senador e Educador Cristovan Buarque, quando diz que “pessoa educada não se deixa escravizar”. O que causa apreensão, é a percepção que a grande maioria dos futuros educadores serão aqueles alunos que hoje na escola se deixam alienar e direcionam e abusam das oportunidades deixadas pelos colegas, por trabalharem, por serem mas concisos, quietos, ou mesmo por aqueles que já se desalentaram e preferem evitar embates, e deixam a água passar por baixo da ponte, e vão e andam, e andam e vão...e aí, sinto o chamamento do povo através dos governantes, dos diretores e gestores, de algumas associações, de algumas ONG’s, de algumas pessoas. De quem escreve como Thais Gurgel (NOVA ESCOLA, outubro 2008) quando diz:
“De todos os fatores que influenciam a qualidade da escola, o professor é, sem dúvida, o mais importante, por isso, a formação (inicial e continuada) faz tanta diferença – para o bem e para o mal. No Brasil, infelizmente, para o mal”.
No meu entender, a qualidade da formação, bem como do profissional que você irá ser, depende das tuas escolhas dentro da universidade. A tua atuação são como as pedras e argamassa que usamos quando da construção do alicerce, e tornar-se bom educador, depende unicamente das tuas atitudes e de teus desempenhos. Prioritário lembrar-se que, és como uma imagem no espelho, e tuas atitudes e escolhas, são teu reflexo.
Nesse curto período que tenho a satisfação de perpassar pela escola, já fui ameaçado, odiado, criticado,... andam a investigar minha vida pessoal e minha atuação dentro da escola. Por certa feita, um colega acirradamente falara: “Você também tem telhado de vidro”. Bom, nunca pensei nisso, apenas vivo um dia após outro. Fiquei frustrado com a atuação de alguns colegas de escola, principalmente aqueles que nos representam e usam essa representatividade de forma escusa. Quando brigávamos e discutíamos em sala no inicio do curso, parecia-me que era a busca. Mas não o era. Era mesmo divergência de personalidade e honradez, de princípios e moralidade, de ética. Investiguem meu ‘telhado de vidro’, para postar minha indignidade, eu não preciso investigar ninguém.
Soares

Bibiografia:
Revista NOVA ESCOLA – outubro 2008
MANIFESTO EDUCADIONISTA
Revista EDUCAR – maio 2008
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido
HANUSHEK, Erick – entrevista revista VEJA (Educação é Dinheiro)